Título: Política industrial a ser anunciada dia 15 contemplará setor de serviços
Autor: Oliveira, Eliane; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 05/04/2008, Economia, p. 40
Governo garante que não faltarão recursos. BNDES entraria com R$70 bi.
BRASÍLIA. O texto da nova política industrial a ser anunciada pelo governo no próximo dia 15 acrescentou uma ampla gama de assuntos à proposta original, concebida em agosto. Além da inclusão digital, com o Banda Larga para Todos, o governo decidiu contemplar a área de serviços, sem contar os setores industriais, como automotivo, têxtil, eletroeletrônico, calçadista e de papel e celulose. O governo garante haver dinheiro suficiente para financiar tudo.
Somente o Orçamento do BNDES contribuiria com uma média de R$70 bilhões nos próximos três anos, sem contar os fundos de incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico. A grande dúvida da área desenvolvimentista, contudo, é o nível de desoneração. Sem redução dos custos industriais, ficará difícil tornar as empresas brasileiras mais competitivas.
As metas fixadas para 2010, por sua vez, são factíveis, disse uma fonte que participa da elaboração do plano, e pelo menos uma é obrigatória: o aumento da participação do Brasil nas exportações mundiais de 1,15% para 1,25%, o que levaria o total exportado para algo em torno de US$208,8 bilhões.
O governo não quer restringir as importações, que atendem à demanda doméstica e ajudam a conter a inflação, mas reconhece que é preciso dar uma mexida nas exportações, para evitar, a médio prazo, um déficit na balança comercial.
- As metas são ousadas, mas devem ser perseguidas. O grande desafio, no entanto, é a coordenação intragovernamental - afirmou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro (PTB-PE).
Para especialistas, a amplitude do programa não deve ser um problema. É o que pensa José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Segundo ele, para os empresários, o que importa é a essência do programa, e até o momento eles estão gostando do que vêem.
Contra "gestão largada", economista sugere controle
Coelho acredita que o mais trabalhoso será melhorar o diálogo com o setor produtivo, que não correu bem na primeira fase da política industrial, em 2003. E lembra que não adianta propor desonerações tributárias se depois surgirem entraves na Receita Federal:
- É preciso combinar o jogo com os russos.
Os analistas ponderam que um programa que abrange 24 setores e dezenas de ações só é viável com uma coordenação eficaz. Para o economista Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o ideal será montar um centro de acompanhamento. Ele sugere uma estrutura semelhante à criada na Casa Civil para acompanhar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC):
- Sem esse controle o risco é a política industrial se dispersar. A gestão ficar largada é uma das características das políticas industriais do país.