Título: Chuvas castigam 190 mil pessoas no Nordeste
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Fonte: O Globo, 08/04/2008, O País, p. 8

Dezenas de municípios da região decretaram estado de emergência ou calamidade; no Ceará, quatro jovens morreram

BRASÍLIA, FORTALEZA, RECIFE, SÃO LUÍS e TERESINA. As chuvas que atingem o Nordeste deixaram cerca de 190 mil pessoas desabrigadas ou desalojadas. Até o momento, segundo a Secretária Nacional de Defesa Civil, 204 municípios foram afetados. Desse total, o maior número é na Paraíba (68), seguida do Rio Grande do Norte (33), de Piauí (30), Maranhão (26), Pernambuco (25) e Ceará (24). São 68,6 mil desabrigados, sendo 56,7 mil só no Piauí. A situação fez com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebesse ontem governadores de oito estados para discutir a ajuda federal.

No Ceará, quatro jovens morreram durante um temporal domingo. Eles foram arrastados na cabeceira da cachoeira de Itarumã e despencaram de uma altura de 70 metros, no município de Viçosa do Ceará, a 344 quilômetros de Fortaleza. Até o momento são as únicas mortes provocadas pelas chuvas que produziram cenas raras no semi-árido cearense: inundações, desabrigados, sangrias de açudes e perda de safra por excesso e não falta de água.

Em 24 municípios cearenses, quase 144 mil pessoas foram afetadas pelas cheias. Seis já decretaram estado de calamidade ou emergência. A previsão da Fundação Cearense de Metereologia e Recursos Hídricos (Funceme) é de que se mantenha este mês a intensidade das chuvas registradas em março - que foi 50% acima da média histórica no Ceará para o mês, uma estatística que não se via desde 1986.

No Piauí, chuva provocou a morte de sete pessoas

Até o início da tarde de ontem, 56 dos 127 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos estavam transbordando, entre eles o Orós, segundo maior reservatório do estado. Em 2007, apenas 19 açudes transbordaram. A última vez em que choveu tanto no Ceará foi em 2004, quando 91 municípios foram afetados.

No Piauí, sete pessoas morreram por causa das chuvas: um homem vítima de desabamento e os outros por afogamento. O secretário estadual de Defesa Civil, Fernando Monteiro, afirmou que o número de desabrigados aumentou de anteontem para ontem de 11.450 para 11.950 famílias. Segundo ele, houve redução das vazões dos principais rios do Piauí, o Parnaíba e o Poti, mas as águas de afluentes desabrigaram famílias em Boqueirão do Piauí, em Buriti dos Lopes e Boqueirão do Piauí.

- A situação é ainda de calamidade. Agora que as águas dos rios estão diminuindo aumentam os riscos de novos afogamentos, porque as pessoas não têm cautela. As águas das chuvas também comprometeram a estrutura de casas, que começam a cair - disse Monteiro.

O prefeito de Teresina, Sílvio Mendes (PSDB), informou que existem 774 famílias desabrigadas na cidade. O governador do estado, Wellington Dias, disse que o governo federal vai destinar R$118 milhões para as vítimas das cheias e a recuperação de pontes e estradas:

- Temos 81 municípios com problemas, principalmente aqueles que margeiam rios da Bacia do Rio Parnaíba.

Chuva castiga Maranhão desde 31 de agosto

No Maranhão, subiu para 55.013 mil o número de atingidos pela chuvas, que castigam o estado desde 31 de março. Segundo o Comitê de Emergência do estado, em 86 dos 217 municípios há registro de desabrigados ou desalojados. Desses, 28 decretaram estado de emergência e cinco, de calamidade. A situação é mais grave nos municípios de Trizidela do Vale, Arame, Gonçalves Dias, Raposa e Paço do Lumiar. Quatro pessoas morreram vítimas de enchentes nos municípios de Lagoa Grande e Governador Archer, e uma desapareceu em Alto Alegre do Maranhão.

O coordenador da Defesa Civil no Maranhão, coronel Roberto Araújo, diz que os números devem aumentar, já que o serviço de metereologia da Universidade Estadual do Maranhão prevê mais chuva em abril.

Pernambuco dependia até o início de março de carros-pipas para abastecer as populações da área rural - nas regiões do agreste e do sertão. Agora, está com 20 municípios em estado de emergência por excesso de chuva. No semi-árido, estradas estão interditadas, os açudes transbordaram e há cidades onde os alunos estão sem condições de ir à escola. Até ontem a noite havia 848 famílias - cerca de 4.200 pessoas - desalojadas ou desabrigadas. O balanço é da Comissão de Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe), para onde os prefeitos iam ontem à tarde, em busca de socorro para seus municípios, alguns dos quais completamente ilhados.

Ingazeira, localizado a 385 quilômetros de Recife, há duas semanas está sem aulas, porque os carros que fazem o transporte de estudantes não conseguem circular na área rural.