Título: Alunos e seguranças entram em confronto
Autor: Weber, Demétrio; Freitas, Ailton de
Fonte: O Globo, 08/04/2008, O País, p. 10

Prédio da reitoria teve água e luz desligados; segundo a UnB, reitor não deixará o cargo

BRASÍLIA. Na assembléia, os estudantes decidiram tomar o prédio inteiro e partiram para cima dos seguranças que bloqueavam a rampa principal. Houve confronto, com muita gritaria, agressões físicas e feridos dos dois lados. O grupo subiu até o quarto andar, onde fica o gabinete do reitor. Os seguranças deixaram o prédio.

- É uma nova ocupação. O grupo mudou muito. Antes havia 70 pessoas, agora, 600 - disse um dos integrantes da comissão de ocupação, Raoni Japiassu.

A água e a luz do prédio, que tinham sido religados durante as negociações, voltaram a ser cortados. Uma comissão de estudantes foi encarregada de levar a ata da assembléia à superintendência da PF no Distrito Federal, com o objetivo de evitar o uso de força policial para desocupar o prédio.

Após a ocupação, a maior parte dos alunos voltou ao térreo e o acesso ao quarto andar passou a ser controlado por estudantes. Muitos vestiam camisetas com a inscrição "Fora reitor". Pelo menos um professor subiu ao terceiro andar.

Trinta e sete professores pedem saída do reitor

Trinta e sete docentes já assinaram o "Manifesto em Defesa da UnB", que pede o afastamento do reitor até que se encerrem as investigações sobre as contas da universidade, principalmente o uso de recursos da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), que bancou a mobília luxuosa do apartamento funcional.

A assessoria da UnB informou que Mulholland descarta a possibilidade de deixar o cargo. Segundo a assessoria, ele continuou trabalhando, mas não informou o local nem se era dentro ou fora do câmpus. Em reunião do Conselho Universitário (Consuni), que reúne dirigentes, professores, funcionários técnicos e administrativo e estudantes, a reitoria listou 11 pontos que estaria disposta a negociar com os estudantes, caso eles deixassem o prédio. Entre eles, a análise da prestação de contas da UnB, o debate sobre fundações de apoio e o aumento de bolsas para estudantes.

No Senado, o senador e ex-reitor da UnB Cristovam Buarque (PDT-DF) mudou o discurso em defesa do reitor e passou a defender o afastamento temporário de Mulholland:

- Por que o reitor não se licencia por um prazo? Os alunos desocupam o prédio por esse prazo e cria-se uma comissão para analisar o que houve de fato, o que a mídia exagerou ou não; quais foram os gastos naquele famoso apartamento funcional; discute-se o envolvimento ou não do reitor diretamente; se foi por omissão diante de atos de alguns dos seus auxiliares, ou se foi ele próprio que decidiu - disse Cristovam, segundo a Agência Senado.