Título: Greve da rceita pára portos e linhas de produção
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Fonte: O Globo, 08/04/2008, Economia, p. 22
SÃO PAULO. A greve dos auditores da Receita Federal, que completa 22 dias hoje, já provoca a paralisação de linhas de montagem de diferentes setores da indústria e pode levar ao colapso as operações de portos e aeroportos no país. Segundo dados do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), na última sexta-feira, no Porto de Santos, o maior do país, havia 75 mil contêineres parados à espera do desembaraço aduaneiro, carga cujo valor era estimado em R$300 milhões.
A pedido das empresas associadas, o Ciesp já conseguiu na Justiça 750 liminares para a liberação de cargas retidas nas alfândegas de portos e aeroportos desde o início da greve. Segundo a entidade, os setores mais afetados são o automotivo (montadoras e fabricantes de autopeças) e o de eletroeletrônicos, que usam componentes importados. Fabricantes de calçados do interior paulista também já enfrentam dificuldades, mas para embarcar seus produtos para exportação.
Em Manaus, R$100 milhões em mercadorias retidas
Em duas cartas enviadas ao Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco Sindical), a Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma) alertou sobre a existência de casos pontuais de falta de matéria-prima. Segundo a entidade, o setor acompanha a greve com preocupação e atenção e não descarta apresentar mandado de segurança à Justiça no caso de desabastecimento generalizado de produtos.
¿ Se a coisa ficar crítica, estamos preparados para agir ¿ afirmou o presidente da Febrafarma, Ciro Mortella. ¿ Confiamos que os próprios líderes da greve (dos auditores) possam agir para evitar uma calamidade.
Na Zona Franca de Manaus, no Amazonas, mais de 8 mil trabalhadores de 11 empresas estão desde a semana passada de braços cruzados, em licença remunerada. Sem conseguir liberar insumos importados, essas empresas tiveram de paralisar algumas de suas linhas de produção. Estima-se entre R$70 milhões e R$100 milhões o valor das mercadorias retidas nos postos da alfândega em Manaus.
¿ Nós já conseguimos cerca de nove liminares, mas isso não está surtindo efeito, porque os grevistas destacam pessoal das áreas administrativas e até seguranças para atender a determinação judicial de manter 30% do pessoal trabalhando ¿ disse ontem o diretor-executivo do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), Ronaldo Mota.
Empresas arcam com despesas para estoque das encomendas
Além de não faturar, pois não produzem, ele observou que as empresas têm de arcar com os custos de manter o pessoal em licença e, ainda, estão pagando pela estocagem das encomendas retidas nos portos e aeroportos.
¿ Toda vez é assim, quem paga a conta são as empresas e seus empregados ¿ disse Mota, cobrando do governo um ¿movimento maior¿ para resolver a questão.
Valdemir Santana, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e presidente da CUT no Amazonas, criticou duramente a paralisação dos auditores. Segundo ele, a greve não atinge o governo e só traz prejuízos aos trabalhadores das empresas afetadas.
¿ Os mais prejudicados são os trabalhadores mais humildes que, depois, para fazer hora-extra, deixam de ir à escola ¿ disse. Jornal: O GLOBO Autor: Editoria: Economia Tamanho: 535 palavras Edição: 1 Página: 22 Coluna: Seção: Caderno: Primeiro Caderno