Título: Pelo jeito, serão duas pizzas
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 09/04/2008, O País, p. 3

A MÃE DO PAC NA BERLINDA

Oposição cria nova CPI no Senado, e governo avisa que vai controlar a comissão

Sem instrumentos legais para impedir que a oposição instale uma CPI exclusiva no Senado para investigar irregularidades no uso dos cartões corporativos e a montagem de um dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique, o governo deverá usar a mesma estratégia já adotada na CPI Mista do Cartão: fará valer sua maioria para controlar a investigação e, desta vez, não pretende abrir mão de qualquer dos cargos de comando da comissão. Mesmo ciente das dificuldades na nova CPI, o plano da oposição é desgastar o governo. Uma das táticas é recorrer ao Senado a cada derrota sofrida na CPI, expondo os senadores em votações no plenário para negar ou confirmar convocações e pedidos de quebra de sigilos.

Apesar da preocupação com o clima de confronto entre governo e oposição, o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), leu ontem o requerimento de criação da nova CPI, que depende agora das indicações partidárias para ser instalada. Pelos cálculos da Secretaria Geral da Mesa do Senado, a oposição terá direito a três representantes na CPI, cabendo à base governista indicar oito.

O governo tentou de toda forma evitar a CPI. O ministro José Múcio (Relações Institucionais) teve uma conversa com o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE). A intenção era convencer tucanos e o DEM de que eles não terão condições de mudar o rumo das investigações mesmo numa CPI exclusiva do Senado.

Depois, no almoço de líderes com o presidente do Senado, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), fez um apelo à oposição. Advertiu que o governo via a iniciativa como uma quebra de acordo, tendo em vista que na CPI Mista o PMDB abriu mão da presidência em favor do PSDB. Mas a investida governista não prosperou, e o plenário viveu uma tarde de discursos duros, de um lado e de outro.

- É lamentável. Agora, a base não tem compromisso sobre um novo entendimento. Deverá indicar o presidente e o relator. Não deixaremos a oposição fazer uma festa político-eleitoral, pretendendo desgastar a ministra Dilma. Encerrado o namoro (entre governo e oposição), acaba-se a relação e cada um vai para seu lado - avisou Jucá.

Oposição nega acordo anterior

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), negou que existisse qualquer acordo com o governo que impedisse a instalação de uma nova CPI.

- Pelo contrário, avisei que se a CPI Mista acabasse em pizza, faríamos a do Senado. Se acharem que podem passar por cima da praxe da Casa, que garante aos maiores partidos ou blocos um dos cargos de comando da CPI, sigam em frente. Se isso ficará impune, vamos ver - reagiu, com ameaça velada de obstruções no plenário.

No mesmo tom, o líder do DEM, José Agripino (RN), também rebateu:

- Ninguém fez acordo para não investigar. Se quiserem esticar a corda, vamos recorrer ao plenário.

Até Garibaldi advertiu para o risco de as investigações não avançarem:

- A oposição alega que a CPI mista não vai adiante pois está natimorta, quase um defunto. Essa CPI mista já está velha. Por isso, quem vai deixar de ir com uma mulher novinha? - ironizou Garibaldi. - Pelo jeito, serão duas pizzas. Se uma não está dando resultado, imagine duas?

A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), tentou argumentar que era contra o regimento instalar duas CPIs sobre o mesmo assunto, mas Garibaldi confirmou a instalação. Ela não se conformou:

- Tem alguma coisa errada: eles não têm maioria e querem decidir pela maioria! Isso não pode!

COLABOROU: Cristiane Jungblut