Título: FMI alerta para especulações com câmbio no Brasil e em emergentes
Autor: Rodrigues, Luciana ; Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 09/04/2008, Economia, p. 20
AMEAÇA GLOBAL: Bovespa sobe 0,56% apesar de quedas nos Estados Unidos
Operações podem deixar países vulneráveis, afirma relatório do Fundo
Luciana Rodrigues e Felipe Frisch
O Brasil - assim como Colômbia, Islândia, Indonésia, Nova Zelândia, Turquia, Índia e África do Sul - tem sido o destino de operações especulativas com câmbio, chamadas no jargão de mercado de carry trade, alertou ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu relatório semestral sobre os riscos à estabilidade financeira global. Nessas operações, os investidores tomam empréstimos em moedas de países que cobram baixos juros, como o iene japonês ou o franco suíço, e aplicam nas divisas de economias com juros altos, como o real brasileiro. Segundo o FMI, "este é um canal de vulnerabilidade em caso de futuros picos de volatilidade".
Dólar fecha em queda de 0,47%, a R$1,696
Apesar do alerta do FMI, analistas brasileiros acreditam que a apreciação do real tem sido motivada principalmente pelos bons resultados das contas externas do país:
- Desde 2003, o Brasil registrava superávit em conta corrente (saldo comercial, investimentos e todas as outras trocas de recursos com o exterior). É claro que o diferencial de juros também influencia. Mas, a longo prazo, prevalece o efeito das contas externas do país - afirma José Alfredo Lamy, da Cenário Investimentos, para quem o real deve se desvalorizar frente ao dólar este ano, já que o Brasil voltou a apresentar déficit em conta corrente.
Ontem, o principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Ibovespa, chegou a cair 1,12% pela manhã, com o noticiário corporativo internacional e a expectativa pela divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), mas logo descolou do mercado internacional e passou a subir. O índice encerrou em alta de 0,56%, aos 64.539 pontos. O dólar acompanhou o otimismo e encerrou em queda de 0,47%, a R$1,696. O risco-país caiu 1,16%, para 256 pontos centesimais.
A alta na bolsa brasileira tem sido sustentada pelo fluxo de investimentos estrangeiros, avalia o economista-chefe da corretora Ágora, Álvaro Bandeira. De fato, até dia 3 de abril, entraram R$1,148 bilhão na Bovespa. Em março, saíram R$1,916 bilhão. No ano, o saldo é negativo em R$4,633 bilhões.
Pela manhã, a fabricante de alumínio Alcoa informou lucro 54% menor no primeiro trimestre. E a indústria de chips AMD comunicou que não terá resultados tão bons quanto as projeções dos analistas. O índice Dow Jones encerrou em queda de 0,29% no dia e o eletrônico Nasdaq caiu 0,68%.
Para Francisco Carvalho, gerente de câmbio da corretora Liquidez, a preocupação agora é com a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), semana que vem, no Brasil:
- Se aumentarem os juros (hoje taxa básica, a Selic, está em 11,25% ao ano), o dólar vai ter mais motivo para cair.