Título: O renascer de nova Marilândia
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 09/04/2008, Economia, p. 25
Degradada pelo garimpo de diamantes, cidade cria 200 granjas e dá a volta por cima
Lino Rodrigues
NOVA MARILÂNDIA (MT). Os cerca de três mil habitantes de Nova Marilândia, no Centro Sul mato-grossense, não querem saber mais de diamantes ou garimpo, motivo de riqueza de poucos e desgraça de muitos até o fim dos anos 80, na região conhecida como Alto Paraguai. A exploração desordenada dos garimpeiros ¿ a cidade chegou a ter cinco mil homens trabalhando na extração mineral ¿ atrás das pedras preciosas deixou um rastro de destruição e sofrimento. Quem permaneceu na cidade ficou com o que sobrou de pior: áreas degradadas, córregos assoreados, desemprego pleno e muitos, por falta de opção, morando nas antigas barracas de lonas usadas nos acampamentos de garimpeiros.
Sem trabalho, boa parte da população migrou para outros municípios da região à procura de emprego; outros ainda insistiram em garimpos clandestinos. Essa situação só começou a mudar em 2001, quando a prefeitura, com o Incra e governos estadual e federal, criou o projeto Avicultura de Corte, que previa a implantação de 213 granjas avícolas em regiões degradas pelo garimpo. Essas granjas, entregues às famílias, geram hoje renda e trabalho e foram responsáveis pelo novo slogan de Nova Marilândia: ¿A cidade que renasce¿. E também por boa parte do aumento de 93,8% do PIB per capita da cidade entre 2002 e 2005, que passou de R$7.697 para R$14.918.
Investimentos de R$38 mil
Hoje, cada uma das famílias assentadas nas áreas adquiridas pela prefeitura recebe, em média, R$2 mil líquidos a cada 50 dias ¿ tempo entre a chegada dos pintinhos e a saída para o frigorífico. No restante da área, plantam produtos para subsistência e já começam a pensar em ampliar a produção de aves.
O grupo Perdigão, além de comprar os cerca de 1,4 milhão de frangos produzidos a cada 45 dias, também recolhe as aves, fornece remédios, insumos e toda a assistência técnica. Os granjeiros entram com trabalho, energia elétrica e pagam parte dos custos com o transporte das aves que são levadas para Nova Mutum, onde são abatidas em frigorífico da empresa. No total, as famílias assentadas investiram cerca de R$38 mil, boa parte financiada pelo Pronaf (programa de crédito do governo) com juros de 2% ao ano.
O sistema utilizado em Nova Marilândia é muito parecido com o adotado em estados da região Sul do país, onde as famílias e o frigorífico dividem os custos, e a remuneração dos integrados é feita através de uma tabela de pontuação que leva em conta a conversão alimentar e a mortalidade das aves. O maior problema, segundo algumas famílias, é a dependência de um único comprador, no caso a Perdigão.
A ex-lavadeira Maria Aparecida Rosa e o marido, o ex-garimpeiro Manoel Miguel da Silva, não estão preocupados com a dependência em relação à Perdigão. Antes da granja, Maria e Silva não conseguiam mais do que R$100 por mês ¿ ela lavando roupa, e ele fazendo bicos na cidade. Hoje, com os R$2 mil que recebem a cada 50 dias já ampliaram a casa, compraram TV e antena parabólica e têm planos para adquirir um ¿carrinho¿ e um trator.
¿ Nossa vida mudou 100% ¿ garante Maria, que, além da atividade no aviário, planta batata, milho, mandioca, frutas e verduras para vender na cidade.
¿ Estamos virando empresários fortes aqui ¿ brinca Silva, que sonha com a formatura da filha, Reusiane, que está cursando Letras em uma faculdade na vizinha Diamantina.
O técnico agrícola Marcos Correa tem uma resposta simples caso a Perdigão tente se aproveitar financeiramente dos produtores:
¿ Se só Perdigão ganhar, ela vai ficar sem as nossas aves.
Paranaense, Correa trabalhava nas lavouras de soja e decidiu investir todas as economias no aviário e ganhar com a segunda expansão do setor que deve começar este ano com a chegada do frigorífico.
¿ Com o frigorífico mais próximo, toda a cadeia vai ganhar, inclusive nós dos aviários ¿ disse ele.
Prefeitura prevê 4 mil empregos
Com inauguração prevista para dezembro, o frigorífico que está sendo construído pela Perdigão em parceria com a União Avícola nos arredores da cidade trará um novo ritmo na produção de frangos na região. A abertura de mil novos postos de trabalho diretos e mais cerca de 3 mil indiretos, segundo estimativas da prefeitura, trará trabalhadores dos outros 14 municípios da região. Além da abertura de novos negócios, especialmente no comércio.
¿ Somos uma cidade em plena expansão ¿ diz o prefeito José Aparecido dos Santos, o Cidinho, idealizador do projeto e dono de aviários.
Cidinho também tem participação no investimento de R$100 milhões para implantação do frigorífico, que terá capacidade para abater 140 mil aves por dia. Jornal: O GLOBO Autor: Editoria: Economia Tamanho: 830 palavras Edição: 1 Página: 25 Coluna: Seção: Caderno: Primeiro Caderno