Título: Reitor atribui invasão à política de cotas da UnB
Autor:
Fonte: O Globo, 09/04/2008, O País, p. 8

Timothy Mulholland diz que não vai deixar cargo, mas sai do prédio pela porta dos fundos

BRASÍLIA. O reitor da Universidade de Brasília (UnB), Timothy Mulholland, disse ontem que não deixará o cargo e que está disposto a negociar à exaustão para convencer os estudantes a desocuparem a reitoria da universidade, invadida desde quinta-feira. Mulholland recebeu a imprensa em outro prédio do campus e teve que interromper a entrevista às pressas, assim que cerca de 80 alunos começaram um protesto do lado de fora, pedindo a sua renúncia. Ele saiu pela porta dos fundos, escoltado por seguranças.

- Entrei na reitoria da UnB na forma da lei e sairei na forma da lei (...). O que não aceitamos é ser julgados na mídia ou por notícias soltas - afirmou.

Mulholland atribuiu as críticas que recebe às políticas de inclusão social e racial adotadas na UnB, que reserva 20% das vagas para estudantes negros:

- A UnB tem sofrido críticas e mesmo ataques na mídia por conta do arrojo dessas políticas e da vontade que temos de alcançar o jovem brasileiro de baixa renda, o jovem da periferia, o jovem negro, o jovem indígena. Entendemos que há uma reação a isso.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, que defende políticas como as adotadas pela UnB, discordou:

- Se há, não tenho nenhum conhecimento de que possa haver essa correlação - disse.

Na última quinta-feira, cerca de 70 estudantes ocuparam o gabinete do reitor, no terceiro andar do prédio. Anteontem, após uma assembléia, os alunos entraram em confronto com seguranças da universidade e tomaram conta do prédio. A principal reivindicação é a saída de Mulholland, que usou recursos de uma fundação de apoio - a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) - para mobiliar seu apartamento funcional.

- Fui eleito para um mandato. Estou exercendo o mandato. E este mandato está previsto em lei. Não é questão de apego. É questão inclusive de cumprir um plano de trabalho.

Antes de ser eleito reitor, Mulholland, professor de psicologia, foi vice-reitor duas vezes e chefe de gabinete da reitoria.

Haddad reuniu-se com Mulholland e dirigentes da Associação dos Docentes da UnB. Ele se disse disposto a intermediar o diálogo, mas afirmou que o governo não intervirá na instituição, pois não há pedido nesse sentido e o MEC não quer ferir o princípio da autonomia universitária. Segundo Haddad, não há previsão legal para o afastamento do reitor no estatuto da UnB, salvo se voluntário.

Mulholland lamentou a violência dos estudantes contra seguranças da universidade anteontem e disse que serviços essenciais estão paralisados por causa da ocupação. Entre eles, a elaboração da folha de pagamento, a contratação de professores e concessão de bolsas. Ele apelou aos estudantes para que saiam pacificamente.