Título: Cartada para evitar nova epidemia
Autor: Motta, Cláudio; Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 09/04/2008, Rio, p. 11

Estado quer assumir atendimento básico de saúde, a cargo da prefeitura, em parte da Zona Oeste

Preocupada com uma nova epidemia de dengue em 2009, que considera inevitável se nada for feito, a Secretaria estadual de Saúde planeja mudar radicalmente não apenas a forma como é feita a prevenção aos focos do mosquito Aedes aegypti como todo o sistema de atendimento nas emergências e na rede básica de saúde na Zona Oeste. A região concentra 25% da população da cidade (cerca de 1,5 milhão de habitantes) e os bairros com maior incidência da doença. O secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, disse ontem ao GLOBO que o estado, que já administra as emergências, quer assumir integralmente a gestão da saúde na Zona Oeste, excluindo Barra, Recreio e Jacarepaguá.

- O estado pode ficar à frente de todos os níveis de atuação. Já começamos a implantar unidades de pronto-atendimento (UPAs). Não adianta ter um posto de saúde se o paciente não tem como fazer uma ultrassonografia ou mamografia. Estamos planejando, por exemplo, a criação de um Centro de Ressonância na Zona Oeste - disse Côrtes logo após participar de um chat (bate-papo com internautas) ao vivo do Globo Online sobre a epidemia.

O chamado Projeto Zona Oeste deve estar pronto em maio. As negociações entre o estado e o Ministério da Saúde já começaram. Côrtes disse que, nas conversas com a prefeitura, discutirá também transferir para o estado, naquela região, a responsabilidade pela ampliação de unidades do programa Saúde da Família.

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse ontem que o modelo de atenção básica à saúde do Rio, centrado em hospitais, é um grande equívoco. Segundo ele, para que a epidemia de dengue no estado não se repita em 2009, será necessário criar uma rede de atendimento à saúde de qualidade:

- Vamos ter que mudar muita coisa, aumentar a mobilização da sociedade. Vamos ter que aumentar também as intervenções urbanas para saneamento ambiental, como o recolhimento de lixo, por exemplo.

Bombeiros em vez de mata-mosquitos

Côrtes detalhou o plano anunciado pelo governador Sérgio Cabral de contratar de três mil a quatro mil bombeiros para atuar permanentemente no combate à dengue. A idéia é que a brigada fique vinculada à Secretaria estadual de Saúde e Defesa Civil e seja acionada conforme as necessidades dos municípios. O secretário disse que isso daria mais agilidade no combate à doença do que contratar mais mata-mosquitos, que por lei teriam que ficar lotados em municípios, sendo desta forma difícil deslocá-los ou alternar seus turnos.

Durante o debate promovido pelo Globo Online sobre o avanço da dengue no Rio, Côrtes disse que existe a possibilidade de uma nova epidemia da doença em 2009. Por isso o governo já está planejando as ações contra a dengue, que deverão ser apresentadas em 40 dias.

- Não tenho a menor dúvida de que uma nova epidemia de dengue possa ocorrer, sim, por isto já estamos planejando o Rio Contra a Dengue 2009. Um grupo técnico com os maiores especialistas das universidades montará essa nova estratégia. O mosquito está se fortalecendo. Estamos mobilizando os bombeiros, que farão a fiscalização, além dos técnicos da prefeitura, e também passarão o fumacê nas ruas assim que o Ministério da Saúde nos enviar carros - afirmou Côrtes, lembrando que não é hora de fazer política.

O secretário reconheceu que houve falha do governo no combate à doença. Para ele, é importante mudar a forma de combater a doença. De acordo com Côrtes, não há qualquer caso em que bombeiros tiveram a entrada impedida nas casas que precisam ser vistoriadas. O disque-denúncia da dengue (0800-6000-0424) recebeu seis mil denúncias e quase três mil foram confirmadas pelos bombeiros.

O estado pretende melhorar o sistema de informações sobre a doença, que serão centralizadas no Centro Estadual de Administração de Desastres, e fazer uma investigação paralela dos óbitos por dengue. Uma comissão foi formada para atuar em todo o estado, cruzando as informações com a cobertura de atenção básica e índices de infestação.

O prefeito Cesar Maia afirmou que a estratégia de combate à dengue é formulada pelo Ministério da Saúde e continuou negando a epidemia:

- Tudo o que o estado possa fazer soma. Quanto ao Saúde da Família, terão as mesmas dificuldades das prefeituras, onde há traficantes, pois os médicos não aceitam trabalhar.

Durante a inauguração de mais uma tenda de hidratação, no Méier, o governador Sérgio Cabral disse que a epidemia tem que ser enfrentada da mesma forma que a criminalidade:

- Não podemos achar normal. A dengue tem que sair da paisagem do Rio. Sou carioca. Moro no Rio há 45 anos e, nos últimos 16, tem epidemia com maior ou menor intensidade.

Cabral disse também que enviará duas mensagens à Alerj nos próximos dias, uma obrigando o comércio a vender tampas avulsas para caixas d"água e a outra dando 90 dias de prazo para a remoção de carcaças de depósitos públicos.

* Do Globo Online