Título: Novas testemunhas podem comprometer pai
Autor: Farah, Tatiana; Delphino, Plínio
Fonte: O Globo, 10/04/2008, O País, p. 10

Duas pessoas dizem ter presenciado reação da irmã de Alexandre Nardoni; madrasta teria sangue na roupa.

SÃO PAULO. Duas novas testemunhas ouvidas ontem à tarde pela polícia podem comprometer a defesa de Alexandre Nardoni em inquérito que apura a morte da filha dele, Isabella Nardoni, de 5 anos. As pessoas interrogadas estavam numa festa à qual estava presente a irmã de Alexandre, Cristiane Nardoni. Na noite do crime, dois participantes da festa disseram ter ouvido da tia da menina uma frase desesperada, logo após receber uma informação. Essa frase, mantida em segredo pela polícia, poderia colocar em xeque o depoimento de Alexandre.

Além disso, na roupa usada pela madrasta de Isabella, Anna Carolina Jatobá, e apreendida para perícia, haveria sangue, segundo a polícia. A vestimenta seria a mesma utilizada pela madrasta no sábado em que Isabella foi arremessada por um buraco na tela de proteção do apartamento do casal, no 6º andar do Edifício London, Zona Norte de São Paulo. O Instituto de Criminalística não confirmou.

O buraco na tela de proteção por onde Isabella foi jogada teria sido feito por uma pessoa destra, segundo peritos. Eles avaliam pegadas no quarto de Isabella para saber se eram recentes e de calçados identificáveis.

O Instituto de Criminalística também analisou as ligações telefônicas feitas naquela noite, no intervalo de tempo em que o crime pode ter sido cometido. Há um primeiro telefonema para a casa do pai de Anna Jatobá, Alexandre Jatobá, e uma segunda ligação para o pai de Alexandre, Antonio Nardoni. Esse segundo telefonema foi às 23h48m. A perícia confirmou que nenhuma ligação foi feita para o resgate dos telefones do casal nem do apartamento de número 62 do Edifício London. O primeiro telefonema com pedido de socorro ao resgate foi feito, segundo a polícia, às 23h49m. A polícia também apurou que a família chegou ao prédio às 23h35m.

¿A gente tem 70% referentes à dinâmica do crime¿

A polícia já ouviu 37 pessoas e outras 19 devem ser ouvidas nos próximos dias. A delegada do 9º Distrito Policial (onde foi aberto o inquérito), Renata Pontes, afirmou que os investigadores já teriam apurado 70% do que aconteceu na noite em que Isabella morreu.

¿ A gente tem 70% referente à dinâmica (do crime), ao ferimento, onde aconteceu, tudo o que foi feito até o óbito ¿ disse ela, que acredita que os 30% que faltam ser esclarecidos, a partir dos laudos periciais, não serão surpresa. ¿ A polícia está chegando próximo da verdade. Um depoimento vem dar credibilidade ao outro, corrobora o outro.

Sobre o vídeo de segurança de um supermercado em Guarulhos, que mostra Nardoni, Anna, os dois filhos do casal e Isabella horas antes do crime, a delegada afirmou que as imagens ajudaram e eram exatamente o que se esperava.

O promotor designado pelo Ministério Público para acompanhar o caso, Francisco Cembranelli, também indicou que a polícia estaria próxima de uma resolução e que as investigações estão num curso muito bom.

¿ Estamos otimistas ¿ disse o promotor, que defende a manutenção da prisão temporária de Alexandre e Anna para não prejudicar as investigações.

O desembargador Caio Almeida, do Tribunal de Justiça de São Paulo, deve decidir hoje se aceita o pedido de habeas corpus do casal, preso desde o dia 3. O advogado de defesa Rogério de Souza se disse confiante.

¿ A expectativa é boa.

Cembranelli relatou o depoimento de uma médica que atendeu Isabella no jardim do prédio. Pelo relato dele, foram feitas tentativas de reanimação até o momento em que ela entrou na ambulância. Segundo ele, quando a médica chegou ao prédio, Isabella tinha sinais de que sofrera uma parada cardíaca.

¿ A médica relatou a seqüência (de socorro) e a tentativa de reanimação, infelizmente sem sucesso. Ela (Isabella) já apresentava sinais de que havia sofrido uma parada (cardiorrespiratória) e tentou-se reanimação. Cabe ao Instituto Médico-Legal anunciar as causas da morte ¿ disse o promotor.

* Do Diário de S.Paulo