Título: Marina rebate críticas a operação na Amazônia
Autor: Brígido, Carolina; Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 10/04/2008, O País, p. 13

Parlamentares da região reclamam de prejuízos em audiência.

BRASÍLIA. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, garantiu ontem que as operações da Polícia Federal e do Ibama para conter o desmatamento na Amazônia vão continuar, reagindo às reclamações de deputados da região de que setores produtivos importantes da economia do país estavam sendo punidos, causando desemprego geral em vários municípios.

Em audiência pública na Câmara para discutir as altas taxas de desmatamento e suas causas, a ministra afirmou que a sanção a infratores é fundamental para conter a devastação.

- É uma vergonha o que a Operação Arco de Fogo está fazendo em Rondônia. Não houve desmatamento no meu estado. Lá, quem desmata são os sem-terra - acusou o deputado Moreira Mendes (PPS-RO).

- Não se pode punir todo mundo. Estão estrangulando a Amazônia - afirmou o deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA).

"Não peçam que o que funciona pare de funcionar"

Marina afirmou que o governo vai continuar combatendo o comércio de madeira ilegal:

- Eu me sinto constitucionalmente responsável por fazer aquilo que a sociedade me delegou: ações de comando e controle. Quem está correto não está sendo penalizado. Gostaria que não pedissem que as coisas que estão funcionando parem de funcionar. Deveríamos estar fazendo muito mais.

Os parlamentares pediram incentivos a produtores que respeitam a legislação ambiental. A ministra concordou e aproveitou para cobrar a aprovação de um projeto seu que tramita há 12 anos para recompensar quem preserva matas em suas propriedades. Ela disse que, na elaboração do Orçamento deste ano, houve tentativa de investimento em ações do tipo, mas os parlamentares não incluíram recursos para isso.

Também participou do debate o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que recentemente teve um desentendimento com Marina sobre as causas do desmatamento no país. Ontem, ele deu a entender que as dissonâncias foram superadas:

- Sob o ponto de vista da agricultura, não há necessidade de derrubar nenhuma árvore para que em 15 ou 20 anos possamos dobrar nossa produção. Mas para isso precisamos usar melhor as áreas já desmatadas.

- É um bom começo a ministra do Meio Ambiente e o ministro da Agricultura não terem divergência - elogiou Marina.

Stephanes disse que, quando o assunto é meio ambiente, o diálogo é difícil, pois "há radicalismo". Sem citar nomes, cobrou "bom senso e razoabilidade" da sociedade. Marina respondeu:

- Também tenho muitas dificuldades. Todo mundo é favorável a acabar com o desmatamento. Mas é muito difícil quando uma unanimidade não reflete na prática.