Título: Sobe o preço da cesta básica
Autor: Flores, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 07/05/2009, Economia, p. 18

Custo dos 13 produtos essenciais ao trabalhador aumentou 1,69% em abril no Distrito Federal, puxado pela batata e pelo tomate. Apesar disso, o valor é mais baixo do que em dezembro de 2008

Após três quedas consecutivas, o preço da cesta básica voltou a subir no Distrito Federal. Os 13 produtos considerados essenciais à alimentação do trabalhador ficaram mais caros na cidade, assim como em outras nove das 17 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em Brasília, o incremento foi de 1,69% em abril em relação a março, puxado por reajustes em seis dos 13 itens. Apesar do acréscimo, o brasiliense ainda gasta menos para comer do que no último mês de dezembro. A cesta média, avaliada em R$ 221,18 no mês passado, é 6,34% mais barata que no fim de 2008, mas, ainda assim, é a quarta mais cara do Brasil. Pelos cálculos do Dieese, o custo da cesta representa 51,70% do valor líquido do salário mínimo ¿ considerando o desconto para o INSS. Em março, a proporção era de 50,84%. Dessa forma, em abril o trabalhador remunerado com um salário mínimo precisou dedicar 104 horas e 39 minutos de sua jornada mensal para adquirir os 13 itens alimentícios.

A alta registrada na capital federal, no mês passado, foi puxada principalmente por elevações nos preços da batata e do tomate, que subiram 24,39% e 25,49% em apenas um mês (veja quadro). ¿São produtos que oscilam muito em função de condições climáticas e o regime de chuvas desfavoreceu a produção, o que levou a um aumento de preços¿, afirma o supervisor do Dieese no DF, Clóvis Scherer.

Em geral, as quedas se justificaram pelo período de colheita das safras, que foram maiores neste ano para a maioria das culturas, resultando em preços mais baixos. A situação foi verificada principalmente no caso do feijão e do arroz. A partir de abril, no entanto, a tendência é mesmo que os preços mudem a trajetória, de acordo com a assessora técnica da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Rosimeire Cristina dos Santos. ¿No fim de abril e início de maio, quando começa a se distanciar o período da colheita, há uma pressão para a alta de preços. Em geral, há uma tendência de aumento de preços no segundo semestre. Já é possível ver que a produção não atenderá toda a demanda de alguns produtos, como o arroz e o feijão¿, afirma. De acordo com ela, para atender a demanda interna, o país precisaria produzir 4 milhões de toneladas de feijão e 2 milhões de toneladas de arroz. A previsão para este ano, no entanto, é colher 3,8 milhões e 1,2 milhão, respectivamente.

É a relação entre a oferta e a demanda que provoca o reajuste de preços, e não fatores econômicos originados pela crise, explica Rosimeire. ¿A crise não afeta o consumo porque são bens essenciais que não podem ser substituídos pelas famílias. Não se mudam hábitos alimentares de um ano para outro em função de uma crise. O que está afetando os preços é a diminuição da oferta¿, completa. O bolso do trabalhador pode ser salvo nos próximos meses, no entanto, em função da queda na demanda internacional, o que eleva a oferta interna. ¿O arrefecimento dos preços das commodities e problemas para exportar alguns itens, como a carne, por exemplo, tendem a fazer com que o mercado interno seja mais abastecido. É difícil fazer previsão com as incertezas econômicas em que estamos vivendo¿, afirma Scherer.

Variações pelo país Nas 17 capitais pesquisadas, as taxas de abril oscilaram de -2,58%, em Manaus, a 5,32%, em João Pessoa. Os preços também variam bastante. Os 13 produtos considerados essenciais para a alimentação humana, de acordo com a metodologia do Dieese, podem custar de R$ 163,76, em Aracaju, a R$ 234,81, em Porto Alegre. As diferenças dentro do país se devem a características da região, de acordo com o coordenador da pesquisa, José Maurício Soares. ¿Os preços e as variações dependem muito da produção de cada capital, dependem da oferta do produto em cada cidade¿, explica. A lista de itens que englobam a cesta básica também variam de acordo com a região. Apesar das diferenças regionais, em 15 das 17 cidades os preços estão mais baratos que em dezembro de 2008. Aracaju registrou a maior queda. A cesta básica está 15,27% mais barata que no fim de 2008.

"A crise não afeta o consumo porque são bens essenciais que não podem ser substituídos pelas famílias"

Rosimeire Cristina dos Santos, assessora técnica da CNA