Título: A terra das roupas para bebês
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 10/04/2008, Economia, p. 30
Com 50 fábricas no setor, cidade do Paraná não tem desempregados há cinco anos
TERRA ROXA (PR). A pequena Terra Roxa, no extremo oeste do Paraná, está trocando a agricultura pela indústria de confecção. Os moradores da cidade ¿ conhecida como a capital brasileira da moda bebê ¿ não sabem o que é desemprego há pelo menos cinco anos, quando começou o boom das fábricas de roupas para recém-nascidos. Segundo o censo de 2000 do IBGE, são cerca de 17 mil habitantes, mas a prefeitura estima que a população atual da cidade já supere 30 mil pessoas. A agricultura ainda é o principal motor da economia local, mas o trabalho em Terra Roxa começa a migrar para as mais de 50 indústrias formais de confecção lá instaladas, e para outras tantas ainda não formalizadas.
A Secretaria Municipal de Indústria e Comércio calcula que somente o setor de confecção infantil emprega diretamente cerca de 3 mil pessoas e movimenta R$25 milhões ao ano. Há ainda muitas confecções, mantidas pelas próprias empresas e que produzem parte das roupas, onde a informalidade é total. Nesses locais, o empregado tem um salário de R$500 em média, até maior que o dos contratados com carteira, mas não conta com proteção social.
Treinamento é um dos desafios
O crescimento acelerado da indústria na cidade já começa a trazer problemas, como a escassez de trabalhadores capacitados para operar máquinas cada vez mais computadorizadas e que começam a se multiplicar nas fábricas. Além de costureiras capacitadas, faltam cortadores, desenhistas e operadores de máquinas de bordado industrial. Essas máquinas substituem as tradicionais bordadeiras, que antes faziam o trabalho a mão ou nas máquinas de costura a pedal.
Mesmo com as dificuldades geradas pelo crescimento desordenado, a indústria de moda bebê já responde por 30% do PIB da cidade. Somente em forma de salários, as empresas injetam mensalmente R$1,3 milhão no comércio local e da região.
¿ Essa indústria tirou o município do buraco ¿ afirmou Dilson Penteado, secretário municipal de Indústria e Comércio. ¿ Hoje, só não está empregado quem não quer trabalhar.
Tiago da Silva, de 18 anos, e o paulista Rodrigo Pereira, de 24, representam bem a nova geração de trabalhadores de Terra Roxa. Silva, nascido e criado na área rural do município, só não migrou para outra cidade porque encontrou trabalho como auxiliar em uma confecção. Em pouco tempo, fez curso de cortador e hoje ganha cerca de R$500 mensais, mais bonificações.
Pereira chegou a Terra Roxa em 2001 para visitar o tio e acabou ficando. Com a experiência adquirida com a mãe, costureira em São Paulo, não teve dificuldade de arrumar trabalho. Como Silva, fez um curso e não quer saber mais de São Paulo.
¿ Lá (em São Paulo) tinha que levantar muito cedo e enfrentar ônibus cheio para o trabalho. Aqui, além do sossego, não falta emprego. Já trabalhei em quatro empresas, comprei casa e me casei. Estou tranqüilo, nem penso em voltar para São Paulo ¿ contou Pereira.
O desafio agora, segundo o governo local, é dar formação. Além de aumentar o número de cursos, a prefeitura tem planos de implantar uma fábrica-escola, assim como construir um pólo industrial com infra-estrutura para abrigar as atuais confecções e as novas que o município quer atrair. Com o Arranjo Produtivo Local (APL) criado em 2003, com o apoio do Sebrae e da Associação Comercial e Industrial de Terra Roxa, a expectativa é que outras indústrias se instalem na cidade.
¿ Cada um faz sua parte. É por isso que esse negócio existe e está prosperando ¿ diz Eugênio Rossato, presidente do APL, que com a mulher e filhos dirige a Paraíso Bordados.
Ex-funcionária abriu um negócio
Vista como o embrião da indústria de roupas para bebês na cidade, a Paraíso foi a primeira fábrica da cidade. Ela deu origem a várias outras, como a Pequena Turma, da ex-funcionária Tereza Topolmiak. A empresa de Tereza, ¿fruto da Paraíso¿, funciona nos fundos da casa de sua mãe e já conta com 25 funcionários, que produzem 5 mil peças por mês. Até o fim do ano, pretende dobrar o número de peças, com investimento de R$100 mil.