Título: Empresários do Uruguai cobram ação contra greve na Receita
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 14/04/2008, Economia, p. 18
Centenas de caminhões uruguaios estão parados na fronteira com Brasil
MONTEVIDÉU e RIO. A greve dos auditores fiscais da Receita Federal, que já dura 27 dias, poderá envolver a diplomacia no Cone Sul. Ontem, fontes empresariais uruguaias informaram que as organizações de transportadoras de cargas do país pediram ao governo que interceda junto ao Poder Executivo brasileiro devido à retenção de centenas de caminhões do Uruguai na fronteira, resultante da greve no Brasil.
- A situação é difícil, e deve se agravar com o enfrentamento entre as autoridades brasileiras e os fiscais da alfândega - destacou Jorge Lepera, secretário da Associação Intersindical de Transporte Profissional de Carga Terrestre do Uruguai.
Dirigentes da associação mantiveram contatos com autoridades dos ministérios uruguaios de Relações Exteriores e de Transporte e Obras Públicas para cobrar apoio. Algumas empresas de transporte locais suspenderam transitoriamente o envio de mercadorias ao Brasil, para evitar que os veículos e seus motoristas fiquem retidos na fronteira.
"Centenas de chefes da Receita entregaram cargos"
O Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco) realiza nova assembléia hoje, para decidir o rumo da greve. Segundo o presidente do sindicato, Pedro Delarue, a greve deve ser mantida. Um dos itens a ser votado é se o efetivo mantido será aumentado dos atuais 30% (exigência legal, efetivo que o sindicato informa estar mantendo) para 40%.
A sugestão de alteração, apoiada pela diretoria do Unafisco, teria o objetivo de "mostrar para a opinião pública que não é intenção nossa (dos auditores) causar transtornos intransponíveis". Uma alternativa a ser votada é o retorno dos fiscais aos postos em regime de operação-padrão, evitando o corte de ponto mas aumentando o rigor da fiscalização, o que deve provocar mais atrasos.
Em resposta à decisão do governo de cortar o ponto dos grevistas, segundo ele, "centenas de chefes de setores já entregaram seus cargos" (de mais de mil existentes pelo país) para não precisar cortar o ponto dos colegas.
- Não há deliberação do Unafisco. As entregas estão sendo espontâneas e já vinham acontecendo mesmo antes da decisão (do governo de cortar o ponto dos grevistas) - disse.
Segundo a presidente do Unafisco do Rio, Vera Teresa Balieiro, além do reajuste salarial, a categoria luta contra a proposta de plano de carreira do governo, que pretende criar um sistema de pontuações para ascensão, o que poderia permitir pressões políticas no órgão, segundo ela. Sobre a efetiva perda de cargos dos que colocaram seus cargos de chefia à disposição, disse:
- No fim da greve, tudo se negocia.
(*) Com agências internacionais