Título: FMI reconhece falhas e acelera reforma interna
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 14/04/2008, Economia, p. 19

Fundo demite 380, corta gastos e até informes

WASHINGTON. A crise financeira deflagrada pelas quebras no mercado hipotecário dos Estados Unidos, e que está provocando uma desaceleração no crescimento econômico mundial, serviu para despertar o Fundo Monetário Internacional (FMI) que, em sua reunião semestral, encerrada ontem, resolveu acelerar o processo de sua reforma interna.

Depois de reconhecer as falhas do Fundo em não ter alertado a comunidade internacional sobre os riscos dos abusos praticados no mercado financeiro americano, o seu diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn, que assumiu há seis meses, determinou que daqui por diante haja análises mais profundas das conexões macrofinanceiras, das taxas de câmbio e de contaminações de problemas "especialmente os emanados das economias avançadas e de seus mercados".

- Antevejo uma instituição mais alerta a questões emergentes, mais crítica em suas avaliações, especialmente nos bons tempos, e mais agressiva ao comunicar suas preocupações - disse.

Strauss-Kahn argumentou que, ao contrário das acusações recebidas, o FMI chegara a perceber a formação da crise com tempo suficiente de, no mínimo, alertar os mercados. A falha, em sua opinião, foi na comunicação:

- Precisamos enfrentar uma realidade desagradável: mesmo quando advertimos sobre os riscos financeiros e as tendências desestabilizantes, a mensagem freqüentemente não chegou às autoridades encarregadas de cuidar da política econômica e isso deixou o Fundo de lado em debates importantes, como o atual sobre a estabilidade dos mercados financeiros mundiais.

Do ponto de vista administrativo, haverá um corte de 13,5% nos gastos do FMI. Um deles será a demissão de 380 funcionários. Outra medida será a redução de informes. Além de gastarem muito papel, disse Strauss-Kahn, é tão grande o tempo que se leva para que estes documentos sejam escritos, revistos, discutidos pela diretoria e, por fim, publicados, que praticamente não servem para nada quando chegam às mãos dos interessados.

- Pela primeira vez, o Fundo está sendo obrigado a praticar a austeridade que prescrevia aos países - comentou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. (José Meirelles Passos)