Título: Alta de alimentos fomenta violência, alerta Bird
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 14/04/2008, Economia, p. 19

Presidente do Banco Mundial pede ação imediata dos países: com crise, disparada de preços agrava desnutrição

WASHINGTON. O presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, fez um apelo ontem, no encerramento da reunião semestral conjunta da instituição e do Fundo Monetário Internacional (FMI), para que haja uma ação imediata de todos para estancar - e, em seguida, reduzir - os crescentes preços de alimentos. Esse fenômeno, embalado pela atual crise financeira, disse ele, vem agravando a desnutrição e fomentando a violência em vários países, além de pressionar a inflação em todos eles.

- A duplicação dos preços dos alimentos nos últimos três anos poderá empurrar muita gente para uma pobreza ainda mais profunda nos países de baixa renda. Essa não é uma questão de curto prazo, apenas, e sim de garantir que as futuras gerações não venham também a pagar um alto preço - disse.

Mantega: crise aumenta urgência de acordo na OMC

O ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, que ao longo do dia participara da discussão a respeito no Comitê de Desenvolvimento do Bird e do FMI, aproveitou a oportunidade para propor uma outra ação, visando justamente a um efeito de longo prazo. Segundo ele, uma ação dessa forma resolveria tanto as questões colocadas quanto fomentaria o crescimento econômico dos países em desenvolvimento.

- O que precisamos obter é um acordo comercial global. A crise financeira aumentou a urgência para se concluir o ambicioso acordo pró-desenvolvimento na Rodada de Doha (da OMC), pois ele leva à eliminação de subsídios agrícolas e tarifas nos países desenvolvidos - disse Mantega no seu discurso.

Ao se referir a um pedido específico de Zoellick, para que os países façam doações para cobrir a necessidade de US$500 milhões do Banco Mundial de Alimentos, das Nações Unidas, para compensar o aumento dos preços dos produtos distribuídos aos mais pobres, Mantega disse que o governo do Brasil apoiava "uma rápida resposta de emergência". Mas que, ao mesmo tempo, achava ser "imperativo ir além da assistência alimentar tradicional, e enfocar no desenvolvimento agrícola".

- Comprar alimentos de produtores locais nos países em desenvolvimento ajuda a manter o sustento de toda uma comunidade. Mas muitos produtores acabam sendo tirados do mercado devido a distorções criadas por subsídios agrícolas - disse Mantega.

Além dos altos preços dos alimentos e do combate à pobreza, o Comitê de Desenvolvimento analisou questões climáticas. Com destaque para as ameaças do aquecimento global para a economia, e também a produção de biocombustíveis - apontada como uma das causas para o aumento de preços.

Zoellick critica subsídios dos EUA e da Europa

Mantega rebateu insinuações de que o Brasil alimenta os dois problemas (aquecimento global e aumento de preços). Os países avançados seriam os principais responsáveis por eles:

- As florestas são vítimas, e não culpadas, do aquecimento global. Se nenhuma ação for tomada para mitigar isso, a Amazônia perderá 30% de sua floresta, transformando-se numa savana - disse o ministro.

Em seguida, afirmou que a produção de biocombustíveis a partir da cana-de-açúcar é uma tecnologia promissora em muitos países em desenvolvimento, sem prejudicar a produção de alimentos e que, portanto, deveria ser apoiada como "uma fonte estratégica de energia limpa". Zoellick endossou:

- A maioria dos estudos mostra que o biocombustível de cana do Brasil tem eficiências adicionais em emissões de gases poluentes. E o etanol celulósico pode ser uma maneira de reduzir custos energéticos sem diminuir a oferta de alimentos - disse, criticando a seguir os programas de subsídios a biocombustíveis nos EUA e na Europa.

- Há uma incongruência em manter programas de subsídio ao mesmo tempo em que se tem tarifas, como é o caso americano - disse o presidente do Bird.