Título: Outro reitor gastou R$75,5 mil com cartão
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 11/04/2008, O País, p. 3

Compras, inclusive em free shop, extrapolam limite permitido e estão sob investigação

BRASÍLIA. Documentos em poder da CPI do Cartão Corporativo revelam que o reitor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ulysses Fagundes Neto, gastou R$75,5 mil com o cartão em 12 viagens ao exterior, em pouco mais de um ano e meio. Os gastos extrapolaram os limites estabelecidos pela lei. Na volta de uma delas, em 18 de junho de 2006, ele usou o mesmo cartão para fazer uma compra de R$39,07 num free shop, segundo registra também o Portal da Transparência.

Procurado pelo GLOBO, o reitor deu duas versões. Na primeira, disse não se lembrar da compra e que seria "praticamente impossível" ter usado dinheiro público num free shop. Depois, afirmou ter feito a despesa numa loja de aparelhos eletrônicos no Aeroporto de Berlim. No entanto, os registros do Banco do Brasil e do Portal da Transparência mostram que o pagamento foi feito à empresa Dufry Brasil, que administra os free shops nos aeroportos nacionais.

- Não posso assegurar o que foi que comprei. Provavelmente algum aparelho de uso na minha atividade institucional - disse o reitor.

CGU: Neto já teve que devolver R$8 mil gastos irregularmente

Ao ser questionada pelo GLOBO sobre os gastos do reitor, a Controladoria Geral da União (CGU) informou que as despesas dele estão sob investigação e que Neto já foi obrigado a ressarcir aos cofres públicos mais de R$8 mil gastos irregularmente no exterior. Os gastos se referem apenas a 2006. Os auditores ainda analisam as faturas de 2007 e 2008.

Na primeira entrevista, o reitor não mencionou a punição recebida. Disse apenas que suas contas de 2006 foram aprovadas, sem que fossem encontradas irregularidades. Depois, reconheceu a devolução dos recursos, mas disse que pretende reaver o dinheiro por achar que os gastos foram legais:

- A CGU decidiu e eu não discuti. Paguei. Mas não houve irregularidade.

O uso do cartão corporativo no free shop já provocou a demissão da ex-ministra Matilde Ribeiro (Secretaria da Igualdade Racial). Em outubro de 2007, ela fez uma compra de R$415. A CGU considerou o gasto irregular e a obrigou a devolver o dinheiro. Matilde atribuiu a despesa a "um engano". O deputado Índio da Costa (DEM-RJ), que analisou as prestações de contas, disse que pedirá a convocação de Neto para que ele se explique na CPI:

- Não importa se o erro foi com pouco ou muito dinheiro. Está na moda a explicação do "engano". Precisamos saber o que ele comprou e por que usou o cartão.

Desde 2006, Neto fez 61 compras em dólar com o cartão. Em algumas viagens, ele extrapolou o limite de gastos diários para servidores de seu nível hierárquico - entre US$220 e US$460, dependo do país de destino. Na primeira viagem em que usou o cartão, Neto gastou R$13.787 em sete dias, média diária de R$1.969. Considerando o preço médio do dólar naquele mês (R$2,20), o máximo que o reitor poderia ter gastado por dia era R$1.012 - ou R$7.140 em toda a viagem. Em apenas uma compra, na véspera de retornar, ele fez um pagamento de R$8.969,96 com o cartão.

Neto justificou que em suas viagens representou a Unifesp em congressos e fez acordos com universidades de Portugal e do Reino Unido. As despesas com o cartão, segundo ele, foram com hospedagem, alimentação e transporte. Os registros do Banco do Brasil, que administra todos os cartões do governo, não revelam os estabelecimentos em que as despesas foram feitas no exterior.