Título: Polícia volta a ouvir madrasta de Isabella
Autor: Barbosa, Adauri Antunes; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 11/04/2008, O País, p. 8
Delegada recolhe sapatos e blusa usados por Anna Carolina no dia do crime; investigadores dizem estar perto de conclusão.
SÃO PAULO. Ao mesmo tempo em que diz que o caso está praticamente esclarecido, a polícia de São Paulo concentrou ontem as investigações sobre a morte de Isabella Oliveira Nardoni, de 5 anos, na madrasta da menina, Anna Carolina Trotta Peixotto Jatobá, de 24. Ontem, a polícia confirmou que uma mancha de sangue foi encontrada na calça jeans usada pela madrasta no dia do crime.
O delegado Calixto Calil Filho, titular do 9º Distrito Policial (DP), onde a morte da menina está sendo investigada, aguarda laudos do Instituto de Criminalística (IC) para confirmar de quem é o o sangue encontrado. Outras roupas solicitadas pela polícia foram entregues apenas na noite de terça-feira, dez dias depois do crime.
Anna Carolina está isolada e chora com freqüência
Os investigadores do 9º DP sentiram falta principalmente de um par de sapatos e de uma blusa que teriam sido usados por Anna no dia do crime. Segundo um policial que apura a morte de Isabella, somente ontem os investigadores souberam que esse material havia sido levado pela madrasta para a carceragem do 89º DP, no Portal do Morumbi, onde ela está presa por ser uma das principais suspeitas do crime.
Anna Carolina foi ouvida ontem pela delegada-assistente do 9º DP, Renata Helena Pontes. A delegada saiu do DP onde Anna Carolina está presa levando uma sacola com roupas e um par sapatos. A delegada não deu detalhes da conversa, mas disse que os cerca de 15 minutos de contato foram para esclarecimentos.
¿ A gente está esperando os laudos. Antes disso, nada vai poder ser revelado ¿ disse a delegada.
O advogado Ricardo Martins, que defende Anna Carolina e a acompanhou no encontro com a delegada, afirmou que ela não foi indiciada porque não há acusação alguma contra a sua cliente.
Desde que chegou ao 89º DP, onde há celas para mulheres, Anna Carolina fica a maior parte do tempo deitada no colchão na cela em que está só, lê a Bíblia e chora muito. O relato é de policiais da delegacia e de Ana Teixeira Mendes, de 71 anos, que ontem à tarde foi ao DP visitar sua filha, também presa.
¿ Quando alguém chega perto e olha, ela começa a chorar. Não conversa com as outras presas ¿ disse Ana.
Uma das presas estava comemorando o aniversário ontem e, segundo Ana Teixeira, Anna Carolina se recusou a participar da confraternização.
¿ Ela estava deitada. Ofereceram bolo, refrigerante e ela não quis ¿ contou.
Segundo a delegada Silvana Sentieri Françolin, do 89º DP, não há clima de hostilidade entre Anna Carolina e as outras três presas que estão na cela ao lado. Mesmo assim, por cautela, a madrasta de Isabella continuará em cela individual. Ela só terá que dividir o espaço se chegarem mais presas.
Advogados pedem novos depoimentos
Ontem a Polícia Civil de São Paulo garantiu que 99% do caso da morte de Isabella já estão esclarecidos
Outro advogado do casal, Marco Pólo Levorin, foi ontem à noite ao 9º DP pedir que a polícia ouça algumas testemunhas que, segundo ele, são fundamentais para esclarecer o caso, entre as quais a irmã de Alexandre, Cristiane, e outras pessoas que podem comprovar ¿a vulnerabilidade do prédio¿ onde ocorreu o crime.
O pedreiro Gabriel dos Santos Neto, que trabalha na construção de um sobrado nos fundos do prédio, depôs ontem e, na saída do 9º DP, negou que a construção tenha sido arrombada no dia do crime, como chegou a ser noticiado.
¿ Lá não roubou nada e não entrou ninguém lá. Eu não falei nada para ninguém, eu não vi nada ¿ disse o pedreiro.
O delegado Calixto Calil Filho, que comanda as investigações, pretendia ouvir do trabalhador informações sobre a possível invasão no local, que poderia ter facilitado o acesso ao edifício onde Isabella foi encontrada morta. O encarregado da obra, que não quis ser identificado, tinha dito que Gabriel contou ter encontrado o portão aberto e o cadeado quebrado.