Título: Dengue ameaça cancelar competição
Autor: Cunha, Ary
Fonte: O Globo, 11/04/2008, Rio, p. 16

Confederação pode tirar evento do Parque Aquático Maria Lenk caso haja risco para atletas.

Palco do recorde de 34 medalhas para a natação brasileira durante os Jogos Pan-Americanos, ano passado, o Parque Aquático Maria Lenk, na Barra da Tijuca, pode protagonizar outra façanha bem menos gloriosa mês que vem. Caso se confirmem as ameaças da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) de transferir o Troféu Maria Lenk - última seletiva da modalidade para as Olimpíadas de Pequim - por causa da epidemia de dengue, pela primeira vez o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença, poderá levar a culpa por um imenso depósito de água limpa ficar parado.

Em nota oficial divulgada ontem, a entidade reiterou a preocupação com a saúde dos atletas participantes, anunciando uma reunião decisiva na terça-feira, com o secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, e com o superintendente de Saúde Coletiva, Victor Berbara. A competição, que ano passado reuniu 380 atletas de 47 clubes, está marcada para o período de 6 a 11 de maio.

Cesar Maia ironiza: "CBDA deve checar sazonalidade"

De Manchester, na Inglaterra, onde acompanha as provas do Mundial de Piscina Curta, o presidente da CBDA, Coaracy Nunes, admitiu, por telefone, que existe uma enorme preocupação entre atletas, técnicos e dirigentes - em especial, os de fora do Rio - com a dengue. Ele exige uma varredura nos arredores e dentro da instalação duas semanas antes das provas e durante o evento.

- Estou sentindo um ambiente de muita preocupação na natação - reconheceu o dirigente, sem dar os nomes de outras possíveis sedes, fora do Rio. - Quero garantias das autoridades de que a situação estará sob controle. No momento em que tenho a seleção mais forte da história da natação brasileira para os Jogos Olímpicos, não vou expor meus atletas a um lugar que pode me trazer problemas.

Coaracy admitiu não ter procurado as autoridades municipais para falar sobre o assunto. Ele e o prefeito Cesar Maia andam estremecidos desde que não houve acordo nas negociações para a CBDA assumir a administração do Maria Lenk. Perguntado sobre a preocupação de Coaracy com possíveis focos da doença em maio, Cesar Maia limitou-se a comentar, por e-mail: "A CBDA deve checar as curvas de sazonalidade".

A confederação promove o evento, mas a administração do Maria Lenk está nas mãos do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) desde o mês passado. Apesar de ser também responsável pela candidatura do Rio aos Jogos de 2016, o comitê se exime de qualquer responsabilidade por possíveis danos à imagem da cidade com a transferência da competição. Em nota, sem fazer menção à epidemia de dengue, o COB argumenta que o "Maria Lenk está disponível e apresenta todas as condições para a realização da competição". E ressalta que "as decisões sobre a realização e organização do evento são de competência exclusiva da CBDA".

Pelo menos no discurso oficial, Coaracy deve ter suas exigências atendidas. A superintendente de saúde coletiva afirmou ontem, através de sua assessoria, que o "estado dará as garantias necessárias para a realização do evento" e que "as ações de prevenção a focos de dengue serão intensificadas no Maria Lenk".

A dengue já causou problemas na preparação brasileira para os Jogos de Pequim. O ginasta Diego Hypólito, que contraiu a doença, ficou cinco dias internado no Hospital Copa D"Or no início do mês.

COLABOROU: Luiz Ernesto Magalhães