Título: Pai e madrasta são soltos
Autor: Barbosa, Adauri Antunes; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 12/04/2008, O País, p. 3

Desembargador considerou prisão desnecessária; promotor diz ter provas contra casal.

Alexandre Nardoni e Anna Carolina Trota Jatobá Nardoni, pai e a madrasta de Isabella ¿ morta aos 5 anos ao ser jogada do sexto andar do prédio do pai ¿, foram soltos ontem à tarde, nove dias depois de terem sido presos. O desembargador Caio Canguçu de Almeida, que julgou os pedidos de habeas corpus, considerou desnecessária a detenção dos dois. Centenas de pessoas se aglomeraram em frente às delegacias onde estavam presos e hostilizaram tanto o pai como a madrasta.

Depois de serem levados ao IML para exame de corpo de delito, Nardoni e Anna Carolina foram para a casa do pai dele, também em São Paulo.

Mesmo com a decisão do desembargador, o promotor Francisco Cembranelli afirmou estar convicto que Nardoni e Anna Carolina cometeram o crime. Disse ter um depoimento de um vizinho, segundo o qual, dez minutos antes do assassinato de Isabella, o casal teve uma briga no apartamento, com Anna Carolina xingando Nardoni aos berros.

Tanto Nardoni como Anna Carolina foram hostilizados por populares, que gritavam ¿assassina¿, ¿justiça¿. Na saída da prisão, a madrasta disse uma única frase:

¿ Eu não sou assassina!

Nas ruas, escolta e perseguição

Anna Carolina foi levada para o IML com escolta de um grande comboio de carros da polícia e até de um helicóptero da PM. A polícia temia que ela fosse linchada. Diferentemente do marido, a madrasta de Isabella saiu da delegacia sem cobrir o rosto.

Logo que soube da decisão do desembargador, o delegado do caso, Calixto Calil Filho, titular do 9º DP, disse, por meio de assessores, ter ficado surpreso com a libertação do casal. Mas afirmou que isso não altera em nada o rumo das investigações. O delegado espera receber os laudos sobre o caso no começo da semana que vem e, com isso, poder apontar quem matou a menina.

Com os laudos e depoimentos de mais de 40 testemunhas, Calixto espera poder concluir a investigação. Por meio da assessoria, o delegado Calixto disse não acreditar que a soltura do casal vá prejudicar a obtenção de provas, uma vez que todas as perícias no local do crime já foram feitas.

Já o promotor Cembranelli disse:

¿ Eu penso de forma contrária ao desembargador. Ele entendeu que havia ausência de elementos que justificassem a prisão. Eu penso de outra forma, mas respeito a decisão dele. Temos depoimentos consistentes que abalam a versão do casal. Há informações preliminares do Instituto de Criminalística que permitem vincular o casal aos ferimentos de Isabella. Temos depoimentos de pessoas idôneas que afirmam ter escutado, dez minutos antes de tudo, uma grande discussão do casal dentro do apartamento. Ela gritava palavrões para Alexandre. A testemunha identificou a mulher que gritava como sendo a mesma Ana Carolina que gritava ao celular instantes depois, quando os bombeiros socorriam Isabella caída no jardim.

O primeiro a deixar a cadeia foi Alexandre Nardoni, que estava preso no 77º DP. Centenas de pessoas cercaram o distrito policial, já que a decisão do desembargador foi tomada às 11h15m, e muita gente aproveitou a hora do almoço para protestar contra a libertação do pai de Isabella.

Nardoni foi solto por volta das 14h30m, sob forte esquema de segurança. Temendo reações violentas, a polícia armou um teatro, não só para driblar as dezenas de equipes de televisão, que não conseguiram fazer imagens de Nardoni deixando a cadeia, mas para afastar a multidão, muito exaltada na porta da delegacia. Um policial saiu com um cobertor na cabeça, fingindo ser Nardoni, e entrou num carro da polícia. Simultaneamente, o pai de Isabella saiu por uma porta lateral, longe das câmeras e da multidão.

O povo gritava ¿assassino, assassino¿ e batia no carro que levava o policial disfarçado de Nardoni.

Depois dos exames realizados no IML, o casal foi deixado na casa do avô paterno da menina, Antonio Nardoni, na Zona Norte, por volta das 17h50m. Anna Carolina foi vista subindo as escadas do sobrado da casa do sogro.

Os dois não deverão voltar para o apartamento onde Isabella morreu. Segundo a polícia, o apartamento ficará lacrado enquanto a perícia não liberar o local.

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