Título: Recessão será mais suave, diz FMI
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Fonte: Correio Braziliense, 07/05/2009, Economia, p. 20

Depois de críticas de Lula ao discurso do Fundo Monetário Internacional sobre o impacto da crise no Brasil, instituição muda de opinião e prevê efeitos leves e breves para a América Latina

Duas semanas depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticar as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia brasileira, a instituição mudou o discurso e afirmou que a recessão na América Latina será mais suave e breve que nas economias desenvolvidas. De acordo com o FMI, a recuperação será mais fácil para o Brasil e para o México do que para outros países da região que não tomaram medidas pertinentes nos períodos de abundância. Desde o começo da crise, esta é a primeira vez que o FMI estima uma recessão mais leve para países em desenvolvimento. A região, no entanto, deve ficar atenta ao impacto social da crise mundial, que é cada vez mais visível, advertiu o FMI.

¿A recessão vai ser mais suave e curta na região. De agora em diante, a região deve começar a se recuperar¿, explicou, em Washington, o diretor do FMI para a América Latina, Nicolás Eyzaguirre. ¿Neste momento, os países desenvolvidos estão com uma pneumonia, e nós temos um resfriado¿, explicou Eyzaguirre, assinalando que, em média, na região, os países experimentam dois ou três trimestres de queda do PIB, contra, por exemplo, os nove trimestres de retrocesso que devem ocorrer nos Estados Unidos.

O Fundo prevê que a América Latina experimentará neste ano uma contração econômica de 1,5% do PIB e uma recuperação de 1,6% em 2010. Eyzaguirre disse ainda que, para a América Latina, esta não tem sido uma crise financeira ou fiscal, e sim comercial, e já começaram a aparecer sinais positivos, como o incremento dos preços das matérias-primas, das quais depende em grande parte a região.

O diretor do Fundo fez uma distinção entre países como Brasil e México, que, nos últimos anos, aplicaram medidas que agora lhes permitirão se recuperar mais rapidamente, e outros como a Venezuela, Equador ou Bolívia, que terão um pouco mais de dificuldade neste sentido. ¿Um grupo de países poupou durante os bons tempos e agora tem fundos que podem ser usados para financiar o gasto e para aplicar medidas contracíclicas, mas outros acharam que o alto nível dos preços das matérias-primas duraria mais¿, explicou Eyzaguirre.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, comentou ontem o pessimismo do mercado em relação à economia brasileira. O relatório Focus estimou uma queda de 0,30% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009, mas, segundo Meirelles, a cada semana essa estimativa vem melhorando. A previsão feita pelo BC em março é de crescimento de 1,2% no PIB deste ano.

Apesar dos sinais positivos, o impacto social da crise mundial é cada vez mais visível, com um aumento do desemprego somado a um aumento dos preços dos alimentos, o que incide no ritmo de redução da pobreza. Além disso, a queda das remessas enviadas dos Estados Unidos e da Europa à América Latina ¿terá consequências negativas sobre a pobreza¿, como estima o FMI.