Título: Casal Nardoni não chamou os bombeiros
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 12/04/2008, O País, p. 8

Instantes após a queda da menina, ligações do apartamento foram para os pais de Alexandre e Anna Carolina.

SÃO PAULO. Em nenhum momento o pai e a madrasta de Isabella de Oliveira Nardoni chamaram o Corpo de Bombeiros para socorrer a menina, que acabara de cair do sexto andar do residencial London, na Vila Isolina Mazzei, Zona Norte de São Paulo, na noite de 29 de março. A constatação é resultado da quebra de sigilo telefônico do apartamento do casal Alexandre Alves Nardoni e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá.

Investigadores do 9º Distrito Policial (DP), no Carandiru, passaram praticamente toda a quinta-feira confrontando os registros das chamadas feitas a partir do telefone fixo do apartamento do casal com as ligações recebidas pelo Centro de Operações do Corpo de Bombeiros na noite do crime. As gravações do Corpo de Bombeiros também não registram ligações de celular de nenhum dos dois.

Houve duas ligações solicitando resgate no Edifício London naquela noite. O primeiro pedido registrado pelos Bombeiros foi às 23h49m59s. Era uma ligação do professor Antonio Lúcio Teixeira, de 61 anos, morador do apartamento 12, dizendo que uma criança havia caído do prédio. Não foram divulgadas informações sobre quem teria feito o segundo pedido de resgate.

Policiais que participam das investigações consideram estranho que o casal não tenha chamado o resgate, preferindo ligar para os pais.

Às 23h50m32s, alguém de dentro do apartamento do casal telefonou para o celular de Alexandre José Peixoto Jatobá, pai de Anna Carolina, em um diálogo de 32 segundos. Na seqüência, às 23h51m09s, foi feito telefonema para a casa do pai de Alexandre, o advogado Antônio Nardoni. A chamada durou 29 segundos.

O advogado Marco Pólo Levorin afirmou que o casal pediu a um vizinho que pedisse socorro. O morador do apartamento 12, que fez o primeiro contato com os bombeiros, contou ter sido acionado pelo porteiro, e não pelos Nardoni. Sobre o segundo telefonema aos bombeiros, ainda não há detalhes.

O resgate demorou 15 minutos. Ao chegar, a equipe encontrou Isabella desmaiada, com traumatismo craniano e hematomas, mas ainda com vida. A médica que atendeu Isabella tentou reanimá-la na ambulância, mas a menina morreu a caminho do hospital.

O promotor Francisco Cembranelli afirmou ontem ter depoimento de testemunhas que contaram à polícia que, dez minutos antes de Isabella ser jogada do 6º andar, o casal teve uma grave discussão no apartamento. Segundo Cembranelli, há também informações preliminares do Instituto de Criminalística que permitem vincular o pai e a madrasta da menina aos ferimentos causados à criança ¿e ao que ocorreu propriamente dito na cena do crime¿.

¿ Foi ouvida uma ferrenha discussão do casal dentro do apartamento dez minutos antes de a menina ser jogada. A voz de Anna Carolina foi reconhecida como a voz da pessoa que discutia no apartamento. A testemunha, posteriormente, comparou a voz da discussão com a voz de Anna Carolina Jatobá no momento em que gritava ao celular no térreo ao lado do corpo da menina ¿ disse o promotor, sem informar quantas testemunhas seriam e nem se são moradores do prédio.

Segundo o promotor, as testemunhas disseram que, na discussão entre o casal, a mulher gritava muito e falava palavrões.

¿ Essas mesmas testemunhas reconheceram, após a queda de Isabella, a voz de Anna Carolina Jatobá no jardim do prédio, quando ela gritava ao celular e xingava o porteiro, dizendo que não havia segurança no local.

O promotor diz não ter dúvidas:

¿ Existem elementos bastante claros e bastante contundentes que abalam a versão trazida pelo casal ¿ afirmou o promotor.

Cembranelli afastou a possibilidade de participação de uma terceira pessoa no caso:

¿ Não há nada nas investigações que indiquem a participação de uma terceira pessoa.

COLABOROU: Cristina Christiano, do Diário de São Paulo