Título: Pressão inflacionária é teste para AL
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 12/04/2008, Economia, p. 34

Fundo elogia Brasil e diz que BCs da região têm de atentar para alimentos e crédito.

WASHINGTON. O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou ontem que as recentes pressões inflacionárias estão se tornando um teste importante da autonomia dos bancos centrais da América Latina, na tarefa de reprimir um fenômeno esperado para breve - "a segunda rodada de efeitos que os preços de alimentos terão na inflação" - e, ao mesmo tempo, "dominar o recente crescimento muito rápido do crédito".

O Banco Mundial também voltou a expressar preocupação com a alta dos alimentos e culpou os biocombustíveis por isso:

- Os biocombustíveis são, sem dúvida, um fator importante. Está claro que os programas públicos na Europa e nos Estados Unidos acarretaram um aumento da produção de biocombustíveis, o que provocou a intensificação da demanda em produtos alimentares - afirmou o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, à radio americana NPR.

Ao alertar os países latino-americanos, o diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental, do FMI, Anoop Singh, fez um apelo aos governos da região.

- Os esforços dos bancos centrais precisam ser apoiados com flexibilidade em outros aspectos da política macroeconômica, em especial a taxa de câmbio e as políticas fiscais - afirmou Singh.

O diretor do FMI também advertiu para as pressões salariais:

- Eu diria que em uma situação como essa, onde temos choques de forças externas, como os preços dos alimentos, a prioridade é evitar que eles fiquem entrincheirados ou entrem nas negociações salariais. Esse seria o principal fator para evitarmos claramente uma segunda rodada de efeitos, pois eles são geralmente mais perigosos quando afetam as negociações salariais.

Para diretor do FMI, Brasil é "uma lição" para a região

Ao analisar especificamente a situação de cada país, Singh disse que o Brasil se tornou um caso exemplar, que chegou a surpreender o Fundo.

- Nos últimos dois anos, superando as nossas expectativas, o crescimento da economia e da demanda tem sido apoiado não apenas pelo consumo, mas pelo investimento local e estrangeiro, pelo aprimoramento tecnológico e pelas importações de bens de capital. Por fim, vemos uma melhoria na taxa potencial de crescimento do Brasil, e ela continua sendo incrementada por investimentos. Isso é uma lição para o resto da região - elogiou.

Perguntado sobre o crescimento dos gastos públicos no país, Singh disse que estes permanecem sob controle, uma vez que o Brasil continua mostrando "uma capacidade de apresentar desempenhos acima da média nas metas de superávit primário". E acrescentou:

- Esperávamos o crescimento de gastos com infra-estrutura no Brasil, pois eles vinham sendo muito baixos e precisam crescer. A única questão é como garantir que esse aumento de gastos tenha um bom destino e não mine a estrutura de superávit primário que o país criou para si mesmo. (José Meirelles Passos, correspondente, com agências internacionais)