Título: Mantega critica FMI e EUA depois de cobrar presença de emergentes no G-7
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 12/04/2008, Economia, p. 34

AMEAÇA GLOBAL: Ministro diz que expansão virá de países em desenvolvimento.

Titular da Fazenda afirma que Fundo precisa passar por uma reciclagem.

WASHINGTON. No comando de uma economia que este ano terá um crescimento (4,8%) maior do que o mundial (3,7%) e ainda mais robusto que o do país mais rico do mundo - os EUA, com mero 0,5% -, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, animou-se ontem a sugerir alterações nas regras do sistema financeiro internacional. Ele aproveitou para, mais uma vez, reivindicar uma mudança também na composição do grupo de países ricos - o G-7 - que até hoje dita as regras nessa área.

Mantega criticou o Fundo Monetário Internacional (FMI) por não ter conseguido prever a atual crise financeira, dizendo que a instituição andava "mais preocupada com a sua própria sobrevivência, a partir de suas necessidades financeiras". Por isso, ele acha que ela "precisa passar por uma reciclagem em sua forma de ação, em sua estratégia de funcionamento".

- É claro que o Fundo se atrasou em relação à crise internacional. Devia ter percebido essa crise há mais tempo e procurado apresentar alguma proposta, algum diagnóstico. Sabemos que o Fundo é mais ágil em fazer propostas quando se trata de países emergentes, e menos rápido, menos eficaz, em fazer propostas para os países avançados. Parece-me que o FMI não foi constituído para isso - disse ele, em entrevista na sede do organismo.

Mantega afirmou que é hora de mudar o Fundo porque o problema hoje está nos países avançados, e são os emergentes que estão dando sustentabilidade a algum crescimento na economia mundial.

G-24 quer mais ação dos países ricos e do FMI

O ministro disse que o mundo assiste hoje à uma mudança da economia capitalista internacional "no sentido de reforçar um novo pólo dinâmico que é constituído pelos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), pelos emergentes". O G-7, disse ele, teria de absorver tais países, transformando-se em G-12 para que suas medidas e decisões sejam mais efetivas:

- Não adianta discutir com uma parte dos países importantes e deixar os outros de fora.

E acrescentou que os emergentes agora crescem mais que os ricos:

- Os países desenvolvidos tendem a se acomodar com taxas menores de expansão, como indica o FMI. Está em curso o deslocamento do eixo dinâmico da economia internacional rumo aos emergentes, que poderão ser os responsáveis, nas próximas décadas, pela maior parte do crescimento mundial.

Ao analisar a crise de crédito desatada pelos EUA, que está provocando uma desaceleração da economia mundial, Mantega disse que a solução exige uma regulamentação mais rigorosa do setor financeiro americano e internacional.

- O que vimos até agora foi um excesso de liquidez, um excesso de crédito, e falta de responsabilidade - disse ele.

Já o G-24, que reúne países emergentes de África, Ásia e América Latina, pediram ontem ações decisivas das nações industrializadas para deter a crise originada nos EUA, bem como que o FMI melhore a análise das economias avançadas.

(*) Com agências internacionais