Título: Paraguai protesta contra prisão na fronteira
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 12/04/2008, O Mundo, p. 42

Policiais militares teriam invadido país vizinho para prender mulher idosa que dirigia carro roubado no Brasil.

CIUDAD DEL ESTE. O governo paraguaio protestou ontem formalmente diante do Brasil pela detenção irregular de uma paraguaia idosa numa zona fronteiriça, afirmando que a ação violou a soberania nacional e "não contribui para as relações" entre os dois países.

A paraguaia Máxima Rodríguez de Martínez, de 70 anos, foi detida na localidade paraguaia de Pedro Juan Caballero por integrantes da Polícia Militar brasileira e levada em seguida à cidade vizinha brasileira de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. Segundo fontes policiais, a mulher dirigia um automóvel denunciado como roubado no Brasil. Ela mora na avenida que divide as duas cidades - e, conseqüentemente, os dois países.

Embaixador é chamado à Chancelaria paraguaia

O ministro de Relações Exteriores do Paraguai, Ruben Ramírez, convocou o embaixador do Brasil em Assunção, Valter Pecly Moreira, para manifestar um "protesto firme e formal" pela atuação da polícia brasileira em território paraguaio, informou um comunicado do governo do país vizinho.

"O chanceler expressou igualmente sua preocupação por este caso em particular e levou sua queixa ao embaixador brasileiro, solicitando o fim desde tipo de ações irregulares", acrescentou a nota oficial.

Segundo o jornal paraguaio "Última Hora", o embaixador Pecly Moreira teria admitido que a incursão dos dois policiais é um fato grave, "sobretudo porque há mecanismos que possibilitariam ter o mesmo resultado sem a necessidade" de entrar em território estrangeiro.

"Informei à Chancelaria e reitero que, se confirmar-se que tudo ocorreu como estão dizendo, o caso, sim, é um motivo para pedir desculpas", disse o embaixador segundo o jornal paraguaio, após visita à sede da Chancelaria do país vizinho.

Máxima, que é dona de um mercado de venda de alimentos a cerca de 15 metros da fronteira, foi liberada horas depois de sua detenção e retornou ao território paraguaio, embora o carro - que segundo denúncias foi roubado no ano 2000 - tenha ficado retido em solo brasileiro.

O vice-cônsul paraguaio em Ponta Porã, Francisco Espínola, disse a uma rádio local que a mulher terá de comparecer diante das autoridades brasileiras em 30 dias para prestar sua versão sobre o assunto.

Parceiros no Mercosul, Paraguai e Brasil compartilham uma extensa e porosa fronteira, numa região de intenso tráfico de maconha e cocaína.