Título: Protestos pacíficos contra a tocha na Argentina
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 12/04/2008, O Mundo, p. 43

Manifestações anti-China foram poucas e não interromperam percurso da chama olímpica em Buenos Aires.

BUENOS AIRES. A tocha olímpica percorreu ontem 13 quilômetros pelas ruas de Buenos Aires, única cidade da América do Sul selecionada pelo Comitê Olímpico Internacional para participar de sua viagem mundial. Manifestantes de ONGs que defendem o Tibete organizaram protestos em pontos emblemáticos, como o Obelisco e a Casa Rosada, e acompanharam o percurso da tocha. Mas o dia terminou sem graves incidentes. Apenas alguns empurrões entre representantes da comunidade chinesa e manifestantes de ONGs internacionais, e com alguns balões de água atirados contra a tocha, sem atingi-la.

A tocha foi protegida por 1.200 policiais, 1.500 agentes da Guarda Costeira e três mil voluntários que correram ao lado dos 80 atletas que participaram do revezamento, entre eles o campeão olímpico de vôlei de praia brasileiro Emanuel, que, por medida de segurança, não pôde ser acompanhado por seu parceiro, Ricardo.

¿ Foi uma experiência única, nunca tinha sentido o tempo passar tão rápido, fiquei emocionado ¿ disse Emanuel, poucos minutos depois de ter chegado ao Clube Hípico Argentina (CHA), onde foi realizado um festival para encerrar o evento.

Com a tocha que carregou durante o percurso nas mãos, ele disse que decidiu entregá-la a Ricardo pois ¿ele é um herói olímpico¿.

No início do percurso, a tocha olímpica se apagou inesperadamente. O imprevisto obrigou a paralisação do revezamento por alguns minutos, até que a tocha fosse acesa novamente.

O dia de ontem foi considerado histórico pelas autoridades, que não impediram a realização de protestos contra o governo chinês. Ao meio dia, membros de grupos como o Free Tibet se reuniram no Obelisco para criticar a China. Na mesma hora, 500 chineses organizaram uma manifestação a favor de seu país.

¿ Pedimos à China que respeite o compromisso assumido quando foi designada como sede dos Jogos. Isso deveria significar um avanço em relação aos direitos humanos ¿ afirmou o deputado Fernando Iglesias, da Coalizão Cívica, que participou do protesto.

Maradona falta e Sabatini encerra

Os manifestantes marcharam até a Casa Rosada, onde foi entregue uma tocha dos direitos humanos ao governo argentino. Poucas horas depois, o anfiteatro Lola Mora foi cenário da cerimônia de apresentação da tocha. Antes de iniciar o percurso, ela foi entregue ao prefeito da cidade, Mauricio Macri.

¿ Estamos orgulhosos por termos sido escolhidos como a única cidade latino-americana a receber a tocha ¿ disse Macri.

O campeão de prancha a vela argentino Carlos Espínola foi o primeiro a carregar a tocha, tendo sido o substituto de Diego Maradona. Ontem, Maradona informou que não poderia participar do evento, pois estava no México. A encarregada de encerrar o percurso foi a ex-tenista Gabriela Sabatini.

A China demonstrou revolta ontem com uma votação da Câmara dos Representantes dos EUA, que aprovou uma resolução em que exorta Pequim a dialogar com o Dalai Lama e parar com a repressão contra manifestantes tibetanos pacíficos.

¿ Isso é confundir preto com branco. É má-fé de alguns deputados, que não só deixaram de condenar os ataques, mas ainda acusaram o governo e o povo chineses ¿ protestou o porta-voz da Chancelaria, Jiang Yu.

A China, apesar de afirmar que a violência parte de tibetanos, não permite que qualquer estrangeiro entre na região para verificar os acontecimentos.