Título: Prefeitos do PT pregam 3º mandato
Autor: Lima, Maria; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 15/04/2008, O País, p. 3

Já PSDB e DEM se unem para tentar barrar qualquer mudança no sistema eleitoral.

Contrariando declaração do presidente Lula, que teria ameaçado romper com o PT se o partido fizer a defesa do terceiro mandato, o prefeito de Recife, João Paulo, aproveitou ontem encontro de 300 pré-candidatos e prefeitos petistas, em Brasília, para lançar movimento das bases do partido em favor da tese. A idéia é tentar criar condições para que o próprio Lula e os companheiros contrários a um novo mandato possam apoiar mudança na Constituição que permitiria mais um mandato, de cinco anos e sem reeleição. Logo na chegada, João Paulo avisou que voltaria a pregar o terceiro mandato, mesmo que tivesse de brigar com Lula, até que a Executiva nacional aprove uma resolução sobre o assunto. Quando fez esse discurso no encontro, foi amplamente aplaudido.

João Paulo alegou que, apesar de outros quadros como a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o deputado Ciro Gomes (PSB), Lula é que tem força:

- Por mais que eu respeite o conjunto de companheiros do PT, a ministra Dilma e o Ciro são ótimos nomes, mas, dentre eles, só o presidente Lula tem condições de dar continuidade ao maior projeto de distribuição de renda que o Brasil já teve. Ele tem que ter coragem de dar um passo em direção a mais um mandato de cinco anos, com término em 2015.

Foi aplaudido pelos prefeitos, que saíram anunciando a disposição de intensificar a pregação durante a campanha municipal.

- Nós, prefeitos, temos que abraçar isso com todas as forças. É preciso fazer uma força tarefa para convencer o presidente Lula a aceitar. Isso não seria um golpe, tem de ser feito dentro da reforma política. Vai ser bom para o povo. Os prefeitos aplaudiram com entusiasmo - disse Antonio Nogueira, prefeito de Santana (AP).

- Eu sou a favor. Lula realiza um projeto de desenvolvimento que nunca vi em 53 anos. Está resgatando uma dívida histórica com os mais pobres. E isso não pode parar - declarou Evandro Mendes, prefeito de Pitangui, Minas Gerais.

"Aí, ele vira um ditador", diz prefeito de Vitória

Poucos prefeitos, como João Coser (Vitória) e Lindberg Faria (Nova Iguaçu), saíram criticando a proposta. O capixaba disse que aprovar um terceiro mandato agora seria criar um vício e que Lula poderia se tornar um ditador.

- Se vencer o argumento de que Lula é necessário para um terceiro mandato, por que não seria para um quarto ou um quinto? Aí, ele vira um ditador - alertou Coser.

Mais tarde, no plenário do encontro, já na presença da ministra Dilma, Coser repreendeu João Paulo por ter defendido a proposta do terceiro mandato.

- Discordo da tese, mesmo porque temos aqui na mesa companheiros que têm competência para substituir o presidente Lula - protestou Coser.

Lindberg Faria também deu declarações contrárias. Mas disse que teme que o assunto tome uma proporção maior entre um grupo de prefeitos, porque, com a popularidade alta de Lula, eles podem capitalizar isso.

- A força de Lula é tamanha que, se eu fizer um abaixo-assinado em Nova Iguaçu pelo terceiro mandato, vai virar uma febre, e eu cresço com isso. Mas sou contra. Muita gente vai defender em causa própria - disse Lindberg, lembrando que o deputado Carlos Santana (PT-RJ) é aplaudido onde vai desde que passou a defender o terceiro mandato.

Ao chegar ao encontro, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, criticou a defesa feita por João Paulo e ironizou a preocupação que causaria na oposição:

- Isso deixa a oposição sem sono. Alguns líderes da oposição já não dormem há meses, em pânico com essa possibilidade.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, também reagiu contra a idéia. Ele e Coser criticaram a possibilidade de o PT ficar dependendo apenas de um líder popular, Lula.

"Não há motivo para esses casuísmos"

Em São Paulo, preocupados com as especulações em torno do terceiro mandato presidencial, as direções de PSDB e DEM decidiram ontem que vão trabalhar contra qualquer eventual tentativa do governo de mudar o sistema eleitoral. Num encontro que contou com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, líderes dos dois partidos disseram que, a partir de hoje, vão atuar no Congresso para abafar qualquer movimento em torno da aprovação de um possível projeto para instituir o mandato de cinco anos, como tem sido defendido por petistas e aliados do governo.

- Não há motivos para que esses casuísmos que estão aparecendo nas palavras de petistas e aliados do governo sejam transformados em realidade no Congresso Nacional - disse o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), para quem a preocupação aumentou a partir de propostas de mudanças na Constituição sobre a reeleição.

- A nossa preocupação é que se fizeram mudanças constitucionais sobre a reeleição há pouco tempo. A Constituição não pode atender aos interesses de A, B ou C, e qualquer mudança na Constituição hoje atenderia A, B ou C - disse ele, sem citar o nome do presidente Lula.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), reforçou o discurso:

- Não vamos votar nada no Congresso que signifique mudanças no sistema eleitoral.

A eleição de São Paulo também foi pauta do encontro da cúpula dos dois partidos de oposição a Lula, embora os dirigentes tenham dito que a discussão das eleições municipais deu-se num plano nacional, e não direcionada a qualquer uma das capitais. Num bloco de papéis que carregava, Rodrigo Maia rabiscou: "eleição municipal de São Paulo, tentar resolver".

Ainda assim, o assunto foi tratado com cautela. Sérgio Guerra reiterou que não vê outra possibilidade na capital paulista senão o lançamento de duas candidaturas: Geraldo Alckmin (PSDB) e Gilberto Kassab (DEM). Rodrigo Maia saiu pela tangente:

- Nosso compromisso é trabalhar até o último momento pela aliança. É bom frisar que o adversário do DEM não está ao nosso lado, não é o PSDB, mas sim o PT - disse ele, para quem a indefinição dentro da coligação não tem dado força para os petistas. - A Marta (Suplicy) tem o patamar do PT. Acho difícil ela crescer acima disso.