Título: MST tenta driblar Justiça com camisas amarelas
Autor: Brasiliense, Ronaldo
Fonte: O Globo, 15/04/2008, O País, p. 9

Sem-terra descartam vermelho e usam cor de movimento de garimpeiros para não serem punidos por ato contra a Vale

BELÉM. A cor vermelha, desde ontem, deixou de ser a marca registrada entre os mais de dois mil manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) acampados em Parauapebas, sudeste do Pará, a pouco mais de cem metros dos trilhos da ferrovia de Carajás, pertencente à Vale. O MST prepara várias ações dentro do "Abril vermelho" para marcar a passagem, dia 17 de abril, do 12º aniversário do massacre de Eldorado dos Carajás, no qual 19 sem-terra foram mortos em confronto com tropas da Polícia Militar do Pará.

Para tentar burlar a liminar do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que proíbe o movimento e seu coordenador nacional, João Pedro Stédile, de "incitar e promover a prática de atos violentos" contra a mineradora Vale, os integrantes do MST vestiram camisas amarelas, cor do Movimento dos Trabalhadores e Garimpeiros na Mineração (MTM), que apóiam as ações do grupo.

Em nota oficial, o MST alega que não realizou protesto contra a Vale quarta-feira passada, como divulgou a mineradora, nem participou da organização do acampamento montado às margens da ferrovia. "O acampamento montado às margens da Estrada de Ferro Carajás é do Movimento dos Trabalhadores e Garimpeiros na Mineração, que fazem uma jornada de lutas em defesa dos direitos dos garimpeiros e contra a exploração imposta pela Vale", diz a nota.

De acordo com o MST, a empresa atribuiu ao movimento os atos de protestos "para esconder da sociedade que diversos setores populares fazem manifestações contra a diretoria da mineradora e pela reestatização da companhia".

Os advogados de Stédile recorreram quinta-feira passada contra a liminar obtida pela Vale, contestando a competência da 41ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio para julgar a ação. A alegação é que Stédile tem endereço fixo em São Paulo, onde alegam que a ação deveria ter sido proposta. O recurso ainda não foi julgado. A multa definida pelo TJ do Rio é de R$5 mil por ato violento ou interrupção.

Empresas de segurança que prestam serviços à Vale flagraram, ontem, militantes do MST e do MTM vistoriando os trilhos da ferrovia, mas os líderes dos sem-terra negam qualquer ação no sentido de bloquear a estrada de ferro, como foi feito em outubro do ano passado. Cerca de 600 homens das polícias Civil e Militar do Pará foram deslocados para o sudeste do estado, onde montaram barreiras nas rodovias PA-150 e PA-275, revistando todos os veículos em busca de armas e drogas.

Os órgãos de segurança do estado mantêm diálogo com os líderes do MST tentando evitar o bloqueio da ferrovia e das rodovias estaduais, principalmente depois que a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), recebeu apelos do vice-presidente da República, José Alencar, e do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Jorge Félix, para que o governo do estado tente de todas as maneiras evitar ações violentas do MST no dia 17 de abril.

- A ordem é negociar e procurar soluções pacíficas - diz o secretário de Segurança Pública do Pará, Geraldo Araújo.

Governo do Pará anuncia reformas em Parauapebas

Ainda ontem, o governo do Pará anunciou que definiu parceria com a prefeitura de Parauapebas. Os acordos foram selados durante a visita de Araújo ao município e encontro com o prefeito Darci Lermen.

Entre as medidas anunciadas pelo secretário estão a reforma da cadeia pública, que ficará em um mesmo complexo, de forma integrada, com as Polícias Civil e Militar e Diretoria de Identificação. Também está prevista a construção de uma nova delegacia no bairro da Paz. A parceria visa ainda a instalação de Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) e da Divisão de Atendimento ao Adolescente (Data) no município.

Lermen foi flagrado em uma gravação supostamente feita pela Polícia Federal incitando os militantes do MST a promoveram ações contra a Vale.