Título: Mercado eleva projeção de juros para 12,75%
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 15/04/2008, Economia, p. 21

Previsão para inflação acumulada no ano ultrapassa, pela 1ª vez em dois anos, meta de 4,5%.

BRASÍLIA. Com os dados recentes de inflação e a insistência no discurso prudencial do Banco Central (BC), o mercado acredita que a taxa básica de juros Selic, hoje em 11,25% ao ano, encerre 2008 a 12,75%, acima dos 12,50% registrados na semana anterior. O processo de aperto monetário começará amanhã, reafirmaram os analistas das principais instituições financeiras por intermédio do boletim Focus, com um aumento de 0,25 ponto percentual, na média das apostas. E mais mudanças devem acontecer.

É a terceira vez consecutiva que os especialistas aumentam a projeção para encerramento da Selic em 2008. Não por menos, a expectativa para o IPCA acumulado este ano também tem subido e, no último Focus, ultrapassou, pela primeira vez em dois anos, o centro da meta (4,5%), chegando a 4,66%.

- A intensidade e a duração desses ajustes (na Selic) estão ainda em aberto. O mercado não está alinhado sobre quando o BC vai parar (de subir os juros) - avaliou o economista-chefe da corretora Fator, Vladimir Caramashi, cuja projeção para o ano é que a taxa fique em 12,50%, com cinco altas de 0,25 ponto percentual até o fim do ano.

A retomada do ciclo de altas estará fundamentada, segundo os analistas, nos sinais dados pelo BC de que prefere tomar ações "preventivas" e na preocupação com o aquecimento da economia. O temor é o descasamento entre a maior demanda interna e o ritmo da oferta, que pode pressionar a inflação. Contam ainda as avaliações mais pessimistas sobre os preços dos alimentos no mundo. Para 2009, ainda segundo o Focus divulgado ontem, também houve aumento nas projeções: de 4,30% para 4,40%.

No caso da inflação deste ano, cuja estimativa anterior era 4,5%, a pá de cal foi a divulgação do IPCA de março, na semana passada, que ficou em 0,48%, bem acima da expectativa inicial, de 0,35%. A última vez que o mercado havia projetado inflação acima do centro da meta foi em março de 2006. Porém, naquele momento, a previsão desacelerava, após um repique inflacionário em 2005 (5,69% em 12 meses), o que contaminou as projeções iniciais de 2006, que chegaram a 5%.

Estimativa para PIB subiu para 4,70% no ano

Os demais indicadores de inflação também tiveram alteração neste levantamento. O destaque ficou para o IGP-M, referência na correção de contratos de aluguel, cuja projeção para este ano saltou de 5,81% para 6,02%, patamar inédito.

Apesar dos cenários pouco favoráveis a preços e juros, o mercado melhorou o prognóstico de expansão do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país) para 2008, de 4,60% para 4,70% - mas ainda abaixo das contas do BC, de 4,80%.

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