Título: Mantega em NY: Vim para botar o PIB na mesa
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 15/04/2008, Economia, p. 21

Ministro da Fazenda diz a empresários dos EUA e analistas de agências de risco que Brasil crescerá 5% em 2008.

NOVA YORK. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem num encontro com empresários americanos na Câmara de Comércio Brasil-EUA, em Nova York, que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) do Brasil crescerá 5% em 2008 e que a economia brasileira tem potencial para crescer neste patamar pelo menos até 2010. Com uma agenda repleta de encontros com economistas das principais agências de avaliação de riscos, Mantega garantiu que o crescimento brasileiro é sustentável:

- Vim para mostrar o aumento do PIB e para botar o PIB na mesa nos encontros com as agências de risco - disse Mantega, brincando com a demora das agências em dar ao Brasil o tão almejado grau de investimento. - O FMI (Fundo Monetário Internacional) já revisou duas vezes as expectativas de crescimento do Brasil para cima. Estamos com uma demanda interna forte de 6,9% do PIB e com alto nível de investimentos, que chega a 13% do PIB. Eu vim aqui para mostrar a todos que o crescimento brasileiro não é eventual. Ao contrário, temos um longo ciclo de investimentos que se marca por 24 trimestres seguidos.

Segundo o ministro, o Brasil vive hoje uma revolução no seu parque industrial, uma vez que a renovação de sua capacidade produtiva já ultrapassou a fase da substituição do maquinário antigo e se caracteriza agora pela ampliação e pela implantação e novas plantas industriais.

Até o fim do mês, medidas para incentivar exportações

Mantega acrescentou que o país está agora formando um mercado interno de massa, com expansão de emprego, crescimento de salário e aumento de produtividade.

- O Brasil teve crescimento de crédito pelo quarto ano consecutivo, com média de 20% ao ano, chegando em 2007 a 35% do PIB, e a melhor notícia é que não houve aumento da inadimplência. A inflação está dentro da meta. A previsão da inflação para 2008 é de 4,6%, e para 2009, de 4,4%. Antes, quando eu visitava o FMI, todos me perguntavam se o Brasil poderia evitar uma recessão. Agora, só me perguntam se o crescimento é sustentável.

O ministro disse que ainda há desafios, como melhorar a infra-estrutura e fazer a reforma tributária para reduzir custos das empresas, simplificar o sistema fiscal, acabar com a guerra fiscal entre os estados e reduzir o custo da mão-de-obra atrelado aos impostos.

- Mas o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) vem aumentando significativamente os níveis de investimento em infra-estrutura, e os gastos do governo com funcionalismo estão sob controle, em níveis inferiores aos do governo FHC - disse Mantega.

O ministro afirmou que os fatores que mais pesam na inflação são todos relacionados ao aumento de preços dos alimentos, puxados pelo mercado internacional, sobretudo a soja, o leite e a carne. Segundo ele, não há outro modo de reduzir esta pressão, exceto elevando a oferta. Ele pretende anunciar medidas para ampliar a oferta de alimentos e incentivar as exportações de manufaturados:

- Pretendo anunciar até o fim do mês medidas para incentivar a exportação de manufaturados, sobretudo automóveis, aviões e máquinas agrícolas. E já garanti aos americanos que a produção de etanol no Brasil não prejudica a de alimentos porque temos terras em quantidade o bastante para aumentar ambas as produções, o que vamos fazer também para aumentar ainda mais o controle da inflação.

Para Mantega, a inflação brasileira não apenas está controlada como também mais próxima de países como a Suíça, que tem inflação de 2,5%, e de toda a região do euro, que ficou em 3,5%. Além disso, disse ele, o crescimento da economia brasileira não foi afetado pela recessão americana, e o país tem reservas cambiais de sobra para contornar qualquer turbulência no mercado internacional.

Apesar do balanço positivo apresentado por Mantega, analistas americanos da Standard & Poor"s e do Morgan Chase continuam a prever uma expansão mais modesta no ano que vem, de cerca de 4%, devido às dificuldades em relação à expansão da infra-estrutura e pela necessidade de uma reforma fiscal ampla, para reduzir o custo de produção no Brasil.

- A reforma tributária já está sendo debatida no Congresso e faz parte hoje de um conjunto de medidas para aumentar a competitividade da economia brasileira no mercado internacional. Mas o importante é que ainda temos muito espaço para crescer, e que este crescimento se baseia sobretudo na demanda interna e no maior acesso da população ao mercado de trabalho e de consumo. Temos uma nova classe média brasileira. Cerca de 20 milhões de pessoas passaram das classes D e E para a classe C, e este contingente está movimentando a economia de uma forma inédita na nossa História - disse o ministro.