Título: Greve da Receita é mantida e põe em risco desembarques em Santos
Autor: D'Ercole, Ronaldo; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 15/04/2008, Economia, p. 22

Porto pode parar em 2 dias. Cargas em aeroportos também são afetadas.

SÃO PAULO, BRASÍLIA e RIO. A decisão dos auditores da Receita Federal - que ontem, em assembléias pelo país, optaram pela continuidade da greve por tempo indeterminado - deve levar à paralisação dos desembarques no Porto de Santos, o maior do país, ainda esta semana, e ameaça também as operações de carga e descarga nos aeroportos de Cumbica, em Guarulhos, e Viracopos, em Campinas. De acordo com o Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp), a situação nos terminais é caótica. A greve foi iniciada em 18 de março.

- Mais um pouco, não tem como desembarcar e vai começar a fazer fila de navios na barra do porto - disse um porta-voz do Sopesp.

José Roberto Campos, diretor da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegários (Abtra) avaliou que, com mais 48 horas de greve, a situação no porto seria "de total impossibilidade operacional", o que poderá levar armadores a desviarem seus navios para portos no Uruguai e na Argentina.

Unafisco entra com ação para impedir corte de ponto

Valdir Santos, presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros de São Paulo (Sindasp), lembrou que o governo não teve perda até agora, pois os impostos e tributos (IPI, ICMS, PIS, Cofins) têm sido recolhidos normalmente. Segundo o Sindasp, ontem havia uma fila de cerca de 200 caminhões no terminal de embarque de mercadorias de Cumbica. A Infraero reconhece que é alta a taxa de ocupação de seus terminais de logística em Cumbica e Viracopos, mas descarta a adoção de um plano de contingência por enquanto.

- A situação só piora, e o prejuízo é absurdo - afirmou Santos, do Sindasp.

Ontem, os fiscais não apenas decidiram manter a greve - apesar da autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para que o Executivo corte o ponto dos grevistas - como manter também o percentual do efetivo na ativa em 30%. A decisão foi apoiada por 74,69% dos auditores, segundo levantamento feito no início da noite de ontem.

Segundo uma fonte do governo, decidiu-se pelo desconto em folha dos grevistas a partir de abril, devido à falta de clareza do texto da sentença do vice-presidente da Corte, ministro Gilmar Mendes. Porém, o Planejamento ainda pode ordenar o desconto total dos dias parados. Dependerá do julgamento do plenário do STF, sem data marcada. O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco) entrou com mandado de segurança no STJ para tentar impedir o corte de ponto.

No Estado do Rio, de acordo com o sindicato, já são 70 os fiscais da Receita que pediram afastamento dos cargos de chefia. A indústria fluminense calcula em R$200 milhões o valor das mercadorias produzidas no Rio e retidas em todo o país por causa da greve.

COLABOROU Mariana Schreiber