Título: OEA pede campanha sem insultos no Paraguai
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 15/04/2008, O Mundo, p. 27

Observadores da organização exortam candidatos à Presidência a resgatarem o bom nível dos debates

ASSUNÇÃO. Líder nas pesquisas de opinião, o ex-bispo Fernando Lugo, candidato à Presidência do Paraguai pela Aliança Patriótica pela Mudança (APC em espanhol), é alvo de ataques virulentos dos adversários na reta final da campanha. O baixo nível do debate eleitoral levou o grupo de observadores internacionais da Organização dos Estados Americanos (OEA) a emitir um comunicado no qual pede o fim dos insultos.

Na semana passada, o ex-general Lino Oviedo, que está tecnicamente empatado em segundo lugar com a candidata governista, Blanca Ovelar, publicou uma propaganda nos jornais na qual comparava Lugo aos presidentes da Bolívia, Evo Morales, e da Venezuela, Hugo Chávez. Na mesma propaganda Oviedo se colocava ao lado da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, apresentados como líderes responsáveis.

Justiça Eleitoral proíbe propagandas ofensivas

Em uma peça divulgada na TV, Oviedo relacionava Lugo às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), responsáveis por milhares de seqüestros no país vizinho. Depois da reação dos partidários de Lugo e das embaixadas da Bolívia e da Venezuela, as propagandas foram proibidas pelo Tribunal Superior de Justiça Eleitoral.

No último fim de semana, as emissoras de TV paraguaias passaram a veicular um longo depoimento da ex-primeira-dama Mirta Gusinky, mãe de Cecília Cubas, a filha do ex-presidente Raúl Cubas seqüestrada e assassinada por integrantes do Partido Pátria Livre, com ajuda das Farc. Cecília foi levada de sua casa em setembro de 2001 e encontrada cinco meses depois em uma cova cavada em uma casa nos arredores de Assunção. O seqüestro e seu desfecho trágico mobilizaram a sociedade paraguaia por vários meses.

- Minha indignação maior foi quando vi que o bispo Fernando Lugo compartilha com estas pessoas. Como pode um bispo participar de uma traição. Para mim é como um filme de terror ver como estas pessoas querem se apoderar do Paraguai - disse Mirta na propaganda.

A APC fez uma queixa ao juiz eleitoral da capital, Reinaldo Poletti, que foi rejeitada sob a alegação de que se trata de uma expressão de "foro íntimo". A propaganda continua no ar.

Segundo pesquisa do instituto Consummer Inteligence divulgada pelo jornal "Última Hora", Lugo continua liderando a disputa com 34,5% das intenções de voto, contra 28,9% de Oviedo e 28,5% de Blanca. A mesma pesquisa, no entanto, mostra que 41% da população acreditam que a candidata governista será a vencedora do pleito. O motivo é o forte temor de que o Partido Colorado, que governa o país há 62 anos, utilize seu aparato para fraudar o pleito.

Ontem, a ONG Transparência Internacional cobrou honestidade à Justiça Eleitoral paraguaia. "Instamos a que os encarregados do processo eleitoral, especialmente o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, atuem com transparência e honestidade, velando para que os resultados reflitam a decisão da maioria", disse num comunicado Alejandro Salas, gerente de programas do Departamento das Américas da Transparência Internacional. A missão de 15 especialistas e 50 observadores da OEA que há 20 dias acompanha o processo eleitoral divulgou um comunicado afirmando não ter constatado irregularidades, mas pede imparcialidade ao TSJE. "A missão considera imprescindível que o TSJE trabalhe de maneira colegiada e atue como árbitro imparcial", diz o texto.

As denúncias de fraudes começaram antes mesmo do pleito. Os nomes de pelo menos 4 mil pessoas já mortas e menores de 15 anos constam das listas de votação. O TSJE deixou nas mãos dos partidos o controle de eventuais fraudes, distribuindo CDs com nomes dos mortos e dos aptos a votarem.

- Caberá aos partidos a fiscalização - disse a chefe do setor de informática do tribunal, Delia Mora.

Ela admitiu que o forte aparato do Partido Colorado pode pesar a favor da candidata governista, mas negou que isso vá desequilibrar o pleito.

- O Partido Colorado tem mais condições, sim - disse ela. - Mas a oposição unida pode equilibrar esta situação.

Cinco ficam feridos em manifestação em Assunção

Enquanto isso, o clima de confronto entre partidários dos três principais candidatos fica mais quente a cada dia. Ontem, a polícia reprimiu com violência uma manifestação de aproximadamente 400 sem-teto que cobravam do presidente Nicanor Duarte Frutos a construção de casas populares. Eles foram encurralados pela polícia enquanto caminhavam pelo centro de Assunção e, quando tentaram escapar, foram agredidos com golpes de cassetete. Pelo menos cinco pessoas ficaram feridas.

Anteontem à noite, simpatizantes do Partido Colorado se confrontaram com partidários de Lugo, criando um clima de guerra na pequena cidade de Limpio. O incidente mais grave até agora foi um suposto atentado contra o jornalista Alfredo Ávalos, dirigente do Movimento Popular Tekojojá, que apóia Lugo. O atentado resultou na morte da mulher de Ávalos, a brasileira Silvana Rodríguez, no dia 8, em Curuguaty.

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