Título: Polícia diz ter desfeito mistério
Autor: Freire, Flávio, Delphino, Plínio ; Christiano, Cri
Fonte: O Globo, 16/04/2008, País, p. 3

Apolícia de São Paulo diz ter concluído: Isabella Nardoni, de 5 anos, teria sido agredida e asfixiada pela madrasta, Anna Carolina Jatobá, antes de ser jogada do 6º andar pelo pai, Alexandre Nardoni. Com base em informações preliminares da perícia do Instituto de Criminalística (IC) e pelo Instituto Médico-Legal (IML), policiais que investigam o crime descartaram totalmente a tese de que uma terceira pessoa esteve no apartamento naquela noite.

Outros dois fatos reforçam a convicção dos policiais: a pegada no lençol de uma cama do quarto de onde Isabella foi jogada é compatível com um calçado encontrado no apartamento, e fiapos da rede de proteção da janela foram encontrados na roupa que Alexandre usava, segundo revelações extra-oficiais do laudo, que deve ser apresentado à polícia até amanhã.

Segundo informações dos relatórios dos peritos, Isabella desmaiou ao ser sufocada. O pai pensou que a menina estivesse morta e, para responsabilizar um suposto ladrão, cortou a rede de proteção e jogou a menina pela janela. Isabella foi suspensa pelos braços e despencou com o rosto virado para a parede. Além de um corte profundo na testa, que teria sido provocado pela madrasta, a menina tinha arranhões na face.

Reforça ainda a tese da polícia a descoberta de marcas de sangue de Isabella na bermuda de Alexandre. Os advogados de defesa contestam:

¿ Essa mancha de sangue na roupa do Alexandre é porque ele abraçou a filha quando a encontrou jogada no chão ¿ disse Rogério Neres, um dos três advogados do casal.

A polícia tem dúvidas sobre se Isabella sofreu a parada respiratória antes ou depois de ser jogada de uma altura de 20 metros. Uma das hipóteses é que ela foi chacoalhada até ficar sem oxigenação por mais de cinco minutos, provocando um desmaio.

Promotor: faltam dados para prisão

O Ministério Público é mais cauteloso quanto a responsabilizar o casal pela morte. Segundo o promotor Francisco Cembranelli, não havia, até ontem à noite, documento novo que endossasse o pedido de prisão preventiva de Alexandre e Anna Carolina.

¿ Só podemos pedir a prisão preventiva se houver oferecimento de denúncia, e isso só acontece se tivermos convicção para isso ¿ ponderou.

Somados ao inquérito, documentos elaborados pela perícia mostram que a posição das gotas de sangue encontradas no apartamento indicam que a garota teria sido carregada no colo por um adulto, já ferida, entre um cômodo e outro.

Os delegados Calixto Calil Filho e Renata Pontes passaram a tarde reunidos no 9º DP. A previsão era de que a prisão preventiva do casal fosse pedida por eles. A defesa pediu a convocação de mais 22 testemunhas antes da conclusão do relatório do caso. Até agora foram ouvidas 52 pessoas, e ninguém foi indiciado.

Em entrevista ao ¿Jornal Nacional¿, da Rede Globo, dois vizinhos que moram no prédio em frente disseram ter ouvido uma discussão do casal antes da morte de Isabella.

¿ Nas discussões aparecia uma voz feminina, e a voz masculina não se ouvia quase. A voz feminina dizia palavras de baixo calão. Não era briga típica de casal, era briga de desespero ¿ disse a testemunha, uma mulher que prestou depoimento à polícia e está disposta a repetir tudo em Juízo. Ela contou: ¿ A discussão foi muito rápida, uns cinco minutos. Em seguida, veio o silêncio. O silêncio durou aproximadamente dez minutos. Foi justamente quando escutei alguém gritando que jogaram a Isabella do sexto andar.

O marido da testemunha, que também escutou a briga, disse:

¿ Cheguei a ligar para o 193, chamei uma viatura de emergência. Disse que uma criança tinha caído. Aí, ela (a atendente) disse: ¿Senhor, a criança não caiu, foi jogada¿.

* Do Diário de S. Paulo Jornal: O GLOBO Autor: Editoria: O País Tamanho: 636 palavras Edição: 1 Página: 3 Coluna: Seção: Caderno: Primeiro Caderno