Título: A pedido da Interpol, PF faz guia sobre técnica para captura de estrangeiros
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 13/04/2008, O País, p. 4

PARAÍSO DO CRIME: Este ano, polícia já prendeu 10 criminosos internacionais.

Cartilha, em inglês, com experiência brasileira será distribuída a 186 países.

SÃO PAULO. Durante décadas, Hollywood popularizou nas telas a imagem do Brasil como paraíso dos criminosos. Casos famosos como os do britânico Ronald Biggs e do colombiano Juan Carlos Abadía, passando pelo mafioso italiano Tomaso Buscheta, mostram que o estereótipo criado pelo cinema está mais próximo da realidade do que da ficção. A experiência adquirida pela Polícia Federal brasileira foi colocada no papel, traduzida para o inglês e, a pedido da secretaria-geral da Interpol, será distribuída nos 186 países que integram a rede internacional de polícia.

-- É um clichê hollywoodiano a cena do criminoso no aeroporto com uma mala de dólares, uma loira bonita e duas passagens aéreas para o Rio de Janeiro. Isso está mudando. As técnicas costumeiramente usadas pela polícia brasileira na captura de criminosos estrangeiros viraram um guia prático que está sendo traduzido a pedido da direção geral da Interpol - disse o delegado da PF Jorge Barbosa Pontes, chefe da Interpol no Brasil.

Prisão de israelense chegou ao Discovery Channel

Além de Biggs, Abadía e Buscheta, a lista de peixes graúdos da bandidagem internacional presa pela polícia brasileira é extensa. Sucessora de Pablo Escobar no comando do Cartel de Cali, a colombiana Mery Valência foi presa no Rio, durante o carnaval de 1997. Considerado um dos maiores estelionatários do mundo, o americano de origem israelita Shalom Weiss foi detido na Áustria depois de uma passagem por São Paulo. A história cinematográfica chegou às telas da TV pelo Discovery Channel, que a classificou como uma das dez melhores histórias de perseguição de todos os tempos.

Ano passado, a Interpol brasileira prendeu 31 criminosos estrangeiros. Este ano, dez.

- Essa prática, em razão da grande demanda, fez com que acumulássemos experiência. Agora decidimos passar isso para o papel. É a doutrina policial brasileira sendo exportada para o resto do mundo - disse Pontes.

Entre as técnicas indicadas na cartilha é possível notar traços da cultura brasileira. Um exemplo: a segunda das sete regras básicas de investigação pegadas pela PF é "não "queimarás"". Ou seja, é melhor perder a chance de capturar um criminoso do que deixar que ele perceba que está sendo perseguido. Outra regra básica é conhecer o alvo.

- É preciso estudar a personalidade do criminoso. Saber que tipo de restaurante ele freqüenta, qual a bebida preferida, hábitos sociais e até sexuais. No caso da Mery Valencia, por exemplo, descobrimos que ela era lésbica e isso facilitou a localização - explicou o chefe da Interpol brasileira.

Logo na apresentação, a cartilha esclarece: "Não se trata de pura teoria da atividade policial, mas do registro de métodos e artimanhas legais utilizadas com sucesso em recentes ações". Por isso, boa parte do material é mantida em sigilo, para não alertar os criminosos.

Com o pedido da chefia mundial da Interpol para que a cartilha fosse traduzida para outros idiomas nas mãos, Pontes, responsável por codificar a experiência brasileira, se enche de orgulho:

- Este pedido é o reconhecimento da expertise da PF brasileira.