Título: Dilma exige fidelidade e não perdoa traição
Autor: Gripp, Alan; Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 13/04/2008, O País, p. 8
Ministra da Casa Civil está cercada por 12 auxiliares de sua confiança e sempre age para afastar suspeitos.
BRASÍLIA. Fidelidade. Essa é uma das palavras mais apreciadas pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. No sentido oposto, traição é, para ela, um dos piores substantivos. Baseada nesses opostos, ela toca seu dia-a-dia, escolhe e dispensa auxiliares. A mulher que foi arrastada para o centro do escândalo do dossiê com gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso mantém em torno de si um esquadrão de pelo menos 12 pessoas que lhe são fiéis. Alguns, pelo menos quatro desse grupo, são gaúchos e a acompanham desde os tempos em que era secretária no governo de Alceu Collares, no Rio Grande do Sul, entre 1991 e 1994.
Os mais novos juntaram-se a ela nos meses que antecederam a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no início de 2003, no Ministério das Minas e Energia. E lhe são igualmente leais. No meio do caminho, quando desconfiou levemente de auxiliares, agiu para que a deixassem. Ao menor sinal de infidelidade, Dilma age para afastar os suspeitos, prove-se ou não a culpa. Aconteceu recentemente com ex-auxiliares na Casa Civil, mas a decisão é sempre discreta. Na medida do possível, ele não as torna pública.
Exigente na lealdade, a ministra também atua da mesma forma. Desde que se levantou a possibilidade de a sua secretária-executiva Erenice Alves Guerra ter participado ativamente da confecção do dossiê, Dilma a vem defendendo, negando que a subordinada tenha feito algo por suas costas. Erenice, que não é gaúcha, como muitos outros auxiliares, desfruta de total confiança da ministra. Ela a acompanha desde o governo de transição, em 2002, e é considerada durona e centralizadora como a chefe, que, aliás, não gosta dessas qualificações.
Auxiliares diretos de Dilma fazem questão de justificar a fama de centralizadora da chefe. Argumentam que é a característica do trabalho desenvolvido na Casa Civil, por onde passam todos os atos assinados pelo presidente - de projeto que ainda será votado pelo Congresso à sanção de uma lei. A ministra exerce controle rigoroso. Se um erro passar pelo filtro da Casa Civil, vai parar na mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por isso, Dilma cobra eficiência não só dos auxiliares, mas dos demais ministros.
Maria de la Soledad chegou à Casa Civil a convite de Erenice
Também no centro do escândalo, Maria de la Soledad Bajo Castrillo, a diretora de Recursos Logísticos que teria participado de reuniões para discutir a organização do tal "banco de dados", foi para a Casa Civil a convite de Erenice, inicialmente como sua chefe de gabinete. Em agosto do ano passado assumiu a diretoria, vinculada à Secretaria de Administração. Está sob a sua responsabilidade, por exemplo, a administração dos palácios do Planalto e da Alvorada, além da residência da Granja do Torto.
Outro auxiliar de Dilma que teve o nome vinculado ao dossiê, embora a especulação não tenha avançado como nos casos de Erenice e Soledad, é Luiz Alberto dos Santos, subchefe de Análise e Acompanhamento de Políticas Públicas Governamentais. Servidor concursado do Senado, passou pela assessoria técnica da bancada do PT e foi para a Casa Civil com o ex-ministro José Dirceu.
Por causa de sua ligação com Dirceu, acabou sendo envolvido como suspeito de fazer o dossiê e de ter facilitado a chegada dele ao Congresso por causa de suas relações com os parlamentares, mas a desconfiança se mostrou infundada. Luiz Alberto segue com a confiança total de Dilma. Ele é um dos subchefes da Casa Civil que despacham diretamente com o presidente Lula.
Também funcionário da Casa Civil desde os tempos de José Dirceu e antigo conhecido dos parlamentares petistas, José Aparecido Nunes Pires, secretário da Ciset, é funcionário de carreira do Tribunal de Contas da União (TCU) e também está na berlinda. Há a suspeita de que dois funcionários para quem designou a tarefa de fazer o "banco de dados" poderiam ter vazado o dossiê. Ele ganhou a confiança do PT ao assessorar Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) em governos anteriores. Mas nos corredores do Planalto, ainda ronda a desconfiança sobre seu grupo.
Sete dos assessores de Dilma não foram ligados ao dossiê
Além de Aparecido e Soledad, o secretário de Administração, Norberto Temóteo Queiroz, também integra o grupo liderado por Erenice que organiza o "banco de dados" com gastos do governo passado. Ele começou a seguir Dilma a partir do Ministério de Minas e Energia.
A chefe da Casa Civil tem ainda mais sete assessores de confiança, mas que não tiveram seus nomes citados no caso. Anderson Braga Dorneles, assessor pessoal da ministra, é jornalista gaúcho e uma "sombra" dela. É ele quem manuseia o laptop nas apresentações do PAC, por exemplo. Trabalha tanto quanto a ministra e carrega a mala dela.
Giles Carriconde Azevedo, secretário-executivo adjunto, é outro gaúcho que a acompanha desde o governo Alceu Collares. É considerado o assessor mais próximo da ministra, mas tem estilo mais maleável. Foi presidente da Companhia de Gás do Rio Grande do Sul (Sulgás) nos governos Collares e Olívio Dutra. Cuida da agenda dela.
O chefe de gabinete Telton Elber Corrêa, também gaúcho, é ligado a Giles. Divide com ele a organização da agenda de Dilma. Beto Ferreira Martins Vasconcelos, subchefe para Assuntos Jurídicos, era do Ministério da Justiça e foi para a Casa Civil como sub de Sérgio Renault, quando Dilma assumiu a pasta. Criou mais afinidade com a ministra e assumiu a subchefia.
Responsável pela administração do PAC, Miriam Aparecida Belchior, subchefe de Articulação e Monitoramento, petista histórica e ex-mulher de Celso Daniel (prefeito petista de Santo André, em São Paulo, assassinado em 2002), está no cargo desde a época de Dirceu.
Outros dois assessores são Antônio José Alves Júnior, chefe da assessoria especial, que é professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Ana Lúcia Ribeiro, chefe da assessoria de imprensa, é gaúcha e ligada ao ex-ministro Miguel Rossetto. Ambos estão no cargo há cerca de um ano.