Título: A revolução da TV digital
Autor: Valente, Antonio Carlos
Fonte: O Globo, 17/04/2008, Opinião, p. 7

A chegada da televisão digital ao Brasil foi amplamente noticiada, mas o debate sobre o alcance desta novidade pode avançar para uma dimensão ainda mais ampla. A abordagem da nova tecnologia, que iniciou transmissões na Grande São Paulo em dezembro e chega ao Rio de Janeiro este mês, tratou de questões sem dúvida importantes, como o preço dos conversores para acessar o sinal digital e as dúvidas quanto à recepção e à qualidade da imagem.

Mas os dois fatores - fase experimental e meio de acesso - deverão ser equacionados rapidamente e estão longe de representar empecilhos para as importantes mudanças que a TV digital pode trazer aos nossos lares. E é justamente essa capacidade da nova tecnologia em melhorar o nosso dia-a-dia que deve ser o passo além na discussão sobre o tema.

Agora devemos pensar sobre o grande salto que a novidade nos permitirá dar, ao possibilitar a convergência total, ao trazer a ponta que faltava ao tripé digital. A migração da televisão do modo analógico para o digital representa a última fronteira para integrar a sociedade e as pessoas por meio de voz, internet e, agora, imagem. Quando a televisão também passa a ser digital, multiplicam-se as possibilidades para o usufruto integrado de uma série de serviços inovadores e importantes para a vida das pessoas.

A transição não se dará da noite para o dia, mas ela é inevitável e permitirá um sem-número de funcionalidades. Um passo importante para tornar realidade a Casa Digital é a disponibilidade de redes de banda larga com maior velocidade - a exemplo do que ocorre em São Paulo, que desde janeiro conta com serviço de internet de banda larga, via fibra óptica, com capacidade de até 100 MB para download e upload.

O Brasil passa a integrar, assim, um seleto grupo de países com tal qualidade de conexão, como o Japão (com 9 milhões de domicílios já atendidos por fibra óptica) e a França (onde a livre competição facilita a oferta de pacotes triple play, juntando internet, televisão por assinatura e telefone).

Com a chegada da tecnologia de imagem digital à televisão aberta e sua integração aos serviços de dados e voz, abrem-se múltiplas opções aos consumidores: redes localizadas de banda larga sem fio; internet de alta velocidade; comunicação interna e externa; integração telefone fixo-móvel; soluções em segurança, do monitoramento remoto de alarmes à identificação de pessoas; automação, incluindo controle de energia e de aparelhos domésticos à distância; lazer e entretenimento, com programações personalizadas de jogos, filmes e canais de televisão; trabalho e negócios, potencializando as opções de atividades profissionais sem sair de casa (home offices). Sem contar as soluções voltadas para as empresas em geral.

A TV digital também é uma alternativa para a inserção dos brasileiros nesse mundo de múltiplas oportunidades: dos 53,1 milhões de domicílios do país, segundo dados de 2005 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 48,5 milhões (91% do total) possuem televisor - um bem enraizado na vida do brasileiro e importante alternativa de acesso ao universo digital. Soma-se, assim, aos esforços que vêm sendo desenvolvidos pelo governo federal e operadoras para levar internet em banda larga a todos os municípios.

O novo conceito de Casa Digital, por sua vez, abastecida por voz, dados e imagem integrados, abre igualmente inúmeras oportunidades para a indústria, notadamente os setores voltados para equipamentos (de comunicação, computação e eletrodomésticos) e entretenimento.

A chegada da TV por sinal digital representa, assim, a viabilização da convergência total - pondo-a a serviço dos cidadãos no seu dia-a-dia - e significa uma oportunidade ímpar de ganhos sociais e econômicos para todo o país.

ANTONIO CARLOS VALENTE é presidente do Grupo Telefônica no Brasil.

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