Título: Confronto em favela leva pânico a tenda
Autor: Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 17/04/2008, Rio, p. 13

Dois pacientes com dengue e uma enfermeira do Corpo de Bombeiros passam mal

Dezenas de pessoas que trabalhavam ou eram atendidas ontem à tarde na tenda de hidratação para doentes com dengue no Parque Ary Barroso, na Penha, viveram momentos de pânico. Um intenso tiroteio entre cem policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM e traficantes no Morro da Chatuba, uma das comunidades do Complexo do Alemão, fez todos se jogarem no chão. O confronto aconteceu a 800 metros da tenda, mas os tiros ecoavam como se fossem muito próximo dali. Foi a troca de tiros mais intensa do segundo dia de operação da Polícia Militar nas favelas da Penha. Assustados, alguns médicos e enfermeiros disseram que não voltariam mais à tenda.

- Somos do interior (do Rio) e não dá para voltar aqui enquanto não tivermos segurança para trabalhar - comentou um médico do Corpo de Bombeiros.

Trabalhavam na tenda naquele momento quatro médicos civis e quatro médicos-bombeiros, além de enfermeiros e auxiliares, todos do Estado do Rio. Duas pessoas que aguardavam atendimento na tenda e uma enfermeira, tenente do Corpo de Bombeiros, passaram mal com pressão alta e foram atendidas no Hospital Getúlio Vargas, que fica bem ao lado. Para lá também correu um pai desesperado com o filho de apenas 10 meses que tomava soro na veia.

- Todo mundo se jogou no chão. Foi horrível, parecia que os tiros eram muito perto. Também não volto mais aqui - contou a dona-de-casa Cícera dos Santos, de 50 anos, que chegara de Irajá com o filho, que está com dengue.

Segundo o comandante do Grupamento dos Bombeiros da Penha, tenente-coronel Sérgio Ângelo da Rocha, as pessoas atendidas na tenda no momento do confronto foram concentradas numa área próxima a um muro, mais protegida. Depois de meia hora, o atendimento voltou ao normal.

Ainda durante esse confronto, que começou por volta das 14h, um grupo de 15 jornalistas ficou na mira dos tiros. Um cinegrafista de TV foi atingido por um reboco de uma parede, que caiu por conta dos tiros. Várias granadas foram lançadas na favela. O tiroteio foi mais intenso na Rua Cajá, que é residencial. O pouco comércio existente fechou as portas. Os ônibus pararam de circular. Uma bala perdida atingiu a empregada doméstica Ruth Nascimento dos Santos, de 54 anos, que trabalhava numa casa nessa rua. Ferida no abdômen, ela foi levada para o Getúlio Vargas.

Após o confronto, os policiais apreenderam balas de diferentes calibres, inclusive de metralhadora .50. Essas têm capacidade de perfurar blindagens. Os policiais pretendem remover hoje um ônibus que foi atravessado por traficantes na Estrada José Rucas. As rodas estavam travadas e, toda vez que a polícia tentava se aproximar do veículo, era recebida com muitos tiros.

Segundo o comandante do Bope, tenente-coronel Pinheiro Neto, cinco barricadas feitas com tonéis cheios de cimento e trilhos foram destruídas com explosivos. Policiais do Bope levaram vários colchões ontem para o posto de policiamento comunitário, onde pretendiam passar a noite. Pinheiro Neto disse que o Bope ficará na favela por tempo indeterminado.