Título: Lula ataca críticos do biocombustivel
Autor: Rangel, Juliana ; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 17/04/2008, Economia, p. 26
BRASÍLIA. Após ouvir críticas de todos os lados, nas últimas semanas, contra a produção de biocombustíveis, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva partiu ontem para o ataque, disparando farpas não apenas contra as nações desenvolvidas, mas também a ONU e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Chamou os críticos de "palpiteiros" e, em discurso a uma platéia de ministros de 33 países da América Latina e do Caribe, não poupou o relator especial das Nações Unidas, Jean Ziegler, que no início da semana disse que a produção em massa de biocombustíveis é um crime contra a Humanidade.
- O verdadeiro crime contra a Humanidade será descartar a priori os biocombustíveis e relegar os países estrangulados pela falta de alimentos e energia à dependência e à insegurança - disse Lula, na abertura da 30ª Conferência Regional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Ele citou os distúrbios causados pela alta de preços dos alimentos em países como o Haiti e enfatizou que se trata de um alerta para que o mundo se empenhe no combate à pobreza.
- É muito fácil alguém ficar sentado num banco da Suíça dando palpite sobre o Brasil ou a África. É importante vir aqui e meter o pé no barro, para saber como é que a gente vive e conhecer o potencial de produção que temos.
O protecionismo dos países ricos, especialmente da União Européia, também foi alvo de críticas do presidente. Ele afirmou que as medidas protecionistas e os subsídios são os grandes responsáveis pelas distorções no comércio, e não os biocombustíveis. Para Lula, são esses países que estão impedindo um acordo na Organização Mundial do Comércio (OMC).
- É com espanto que vejo as pessoas estabelecerem uma relação de causa e efeito entre alimentos e biocombustíveis, e não mencionam os impactos dos preços do petróleo sobre a produção - disse Lula. - O alimento está caro porque o mundo não estava preparado para ver milhões de chineses, indianos, africanos,brasileiros e latino-americanos comerem três vezes ao dia.
Para a ONG ActionAid, porém, o avanço de biocombustíveis no Brasil concorre com a produção de alimentos e traz o risco de um retrocesso no combate à fome, "uma das principais conquistas do governo Lula". Segundo a ONG, dados do IBGE mostram que, entre 2004 e 2006, houve um aumento de 545.562 hectares na área plantada de cana-de-açúcar e uma diminuição de 1.349.333 hectares na parcela destinada às outras culturas.