Título: Dólar derrete para a menor cotação em 9 anos
Autor: Rangel, Juliana ; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 17/04/2008, Economia, p. 26
No dia em que BC subiu juros, moeda fechou a R$1,664. Fluxo cambial de abril está positivo em US$5,435 bi
Juliana Rangel e Patrícia Duarte
A aposta de que o Banco Central (BC) pudesse elevar os juros básicos da economia (Taxa Selic) em 0,50 ponto percentual - que acabou se confirmando - e a forte entrada de investimentos estrangeiros no país fizeram com que o dólar recuasse ontem à menor cotação desde 14 de maio de 1999. A moeda encerrou os negócios em queda de 1,19%, a R$1,664, enquanto a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 2,45%, aos 64.151 pontos.
No Brasil, a moeda americana vinha se desvalorizando desde 1º de abril. A única exceção foi a última sexta-feira, quando subiu 0,36%.
Estrangeiros anteciparam investimentos no Brasil
Uma das explicações para o derretimento da cotação é que os estrangeiros aceleraram seus investimentos no país, já de olho no aumento dos juros. Com isso, houve uma enxurrada de dólares no mercado, o que pressionou o valor para baixo.
Segundo o BC, o fluxo cambial da conta financeira em abril -- que engloba aplicações em títulos, ações e investimentos produtivos - estava positivo em US$1,714 bilhão até o dia 11. O volume supera em 66,4% o registrado no mesmo mês de 2007.
Durante o período, as compras de estrangeiros somaram US$12,675 bilhões, e as vendas, US$10,961 bilhões. Apesar do avanço nas últimas semanas, o saldo acumulado no ano está negativo em US$2,847 bilhões.
Já o fluxo cambial (entrada e saída de moeda estrangeira) estava positivo em US$5,435 bilhões em abril. No ano, o saldo é de US$14,374 bilhões.
- A elevação da Selic poderá atrair muito mais recursos para investimentos em renda fixa no Brasil. Além disso, saíram números ruins da economia americana, e a moeda se desvalorizou também lá fora. Sem contar que a Bovespa subiu 2,45%, e que 30% do volume de investimentos é de estrangeiros - explicou o diretor de câmbio da Fair Corretora, Mário Battistel.
Segundo o diretor-executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, o BC comprou em torno de US$ 121 milhões no mercado à vista, em mais uma intervenção diária. No mês, a estimativa é de que a entidade já tenha comprado US$2 bilhões. Para ele, o dólar poderá cair ainda mais nos próximos dias:
- Neste momento, há um pouco de resistência dos bancos que estão com posições compradas (apostas) na moeda a preços mais altos. Mas assim que as posições forem desfeitas, a desvalorização poderá se acentuar.
Pelo lado comercial, segundo o BC, o fluxo cambial mostrava saldo positivo de US$3,721 bilhões em abril, com exportações de US$7,709 bilhões e importações de US$3,989 bilhões. No ano passado, o superávit do período era de US$3,332 bilhões.
Na Bovespa, ações de siderúrgicas são destaque
Na Bolsa paulista, as maiores altas foram registradas pelo setor de siderurgia. Em relatórios destinados a investidores, os bancos Morgan Stanley e Goldman Sachs elevaram suas perspectivas para ações da Companhia Siderúrgica Nacional e da Usiminas. Os papéis ordinários (ON) da primeira subiram 5,85%. As preferenciais de classe A da Usiminas ganharam 9,24%.
Além disso, a ArcelorMittal, maior siderúrgica do mundo, informou que irá reajustar o preço do aço em 33% nos Estados Unidos, o equivalente a US$250 por tonelada.
Para o sócio da Rio Gestão André Querne, a notícia mostra que a demanda por commodities continua forte, o que impulsionou preços em todo o mundo.
- Também contribuiu a notícia de que o PIB da China cresceu mais de 10% no primeiro trimestre. O país continua em expansão apesar da crise americana - disse.
O destaque negativo foram as ações da Petrobras: as ON caíram 1,41% e, as PN, 0,64%, depois que a empresa divulgou uma queda de 1,2% na produção de março. Ao todo, foram extraídos dos campos brasileiros 1,8 milhão de barris por dia, volume inferior ao de fevereiro.
Em volume, a Bovespa negociou R$11,159 bilhões. Deste montante, R$ 2 bilhões foram relativos ao vencimento de opções do índice Ibovespa.
A Bolsa também foi influenciada pela alta dos mercados americanos, provocada pelo anúncio de resultados financeiros positivos de Intel, Coca-Cola e JP Morgan Chase. O índice Dow Jones, da Bolsa de Valores de Nova York, subiu quase 250 pontos, fechando em alta de 2,1%. O Nasdaq subiu 2,8%.