Título: A UNE não aparece nunca
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 13/04/2008, O País, p. 12

O coordenador-geral do DCE da UnB, Fábio Félix, interrompe a entrevista para atender o celular. Abre um sorriso e diz: "Oi, pai". Dormindo na reitoria da UnB desde o dia 3, Félix não teve tempo de ir em casa, na cidade-satélite do Guará, a 10 quilômetros de Brasília. Antes de desligar, anuncia que irá ver a família à noite: "Estou morrendo de saudade da minha princesinha", diz, referindo-se à sobrinha de 11 meses. A entrevista na sexta-feira foi rápida. Félix tinha que voltar para a reunião do Conselho Universitário, que debatia o afastamento do reitor em exercício, Edgar Mamiya. A discussão, no entanto, foi sendo adiada para quarta-feira.

Você é filiado ao PSOL. Partidos políticos estão por trás desta manifestação?

FÁBIO FÉLIX: Quem puxou essa manifestação foi o DCE, em que a maioria não tem partido.

Há quem diga que os partidos políticos controlam e usam o movimento estudantil...

FÉLIX: Eu era militante sem partido em 2004, ao entrar na universidade. Só me filiei em 2005. Não dá também para despolitizar ou desqualificar um militante porque é de partido. Isso não faz a opinião dele menos importante.

Durante a reunião do Conselho Universitário surgiu divergência entre os manifestantes e a UNE com relação aos protestos dos estudantes do lado de fora. Por que houve esse atrito?

FÉLIX: O atrito foi com a direção majoritária da UNE. Eles não aparecem nunca. Do nada vêm. Não tem problema, é uma questão deles. O que não pode é querer atrapalhar. Quando começa a desgastar o governo e o MEC, a direção majoritária fica querendo acabar logo.

O que precisa mudar na UnB?

FÉLIX: Muitas coisas. A questão central é a democracia interna. Isso evitaria que a cúpula dirigente pudesse se cacifar e montar uma rede de corrupção como a atual administração montou.

Como conciliar o movimento com as aulas?

FÉLIX: O curso que faço, de serviço social, decidiu abonar as faltas. Disseram que a maior aula que os alunos podiam ter era essa, que rompe com a relação vertical do tipo "o professor ensina, e o aluno aprende" para outra horizontal. Capacita mais para intervir na realidade.