Título: Deputado foi testemunha em três processos
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 13/04/2008, O País, p. 17
Amiga torturada ainda hoje precisa de apoio psicológico
BRASÍLIA. Pedro Eugênio militava no Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e foi preso em 1972, junto com outros colegas, sob a acusação de ajudar o comunista Sá Benevides. Durante o primeiro mês, conta o deputado, ficou em poder do DOI-Codi, quando foi torturado. Depois, foi transferido para uma prisão da Secretaria de Segurança de Pernambuco até o julgamento em primeira instância. Foi absolvido.
Retomou os estudos, casou-se e arranjou emprego em uma seguradora. Foi preso novamente por uma noite por causa de um assalto em um quartel, sem qualquer envolvimento. Isso aumentou o receio que tinha de ser condenado no julgamento em segunda instância.
- Eu estava legalizado, mas podia ser condenado a 17 anos. Pensei: não vou ser preso de jeito nenhum. Abandonei o emprego, vendemos o carro e ficamos, escondidos, dois meses no Rio de Janeiro. Só voltamos quando fui absolvido - contou Pedro Eugênio.
Durante o mestrado em economia, na Universidade Federal de Pernambuco, deu aulas como professor colaborador na graduação. Não conseguiu, no entanto, a renovação do contrato:
- Um colega me avisou que estava tudo certo para a renovação, mas que houve veto por causa do meu envolvimento político. Fui cassado por uma ordem da ditadura e tivemos que viver, por um bom tempo, apenas do salário da minha mulher.
Pedro Eugênio fez concurso para a universidade, em 1978. Passou em primeiro lugar e, já durante a transição, acabou sendo contratado. Todos os percalços dariam, em tese, direito a pleitear a reparação financeira.
"Uma amiga minha nunca mais se aprumou na vida"
Pedro Eugênio se emociona ao citar o caso de uma amiga que foi muito torturada durante a ditadura e que precisa até hoje de apoio psicológico. Segundo o deputado, a amiga nunca mais conseguiu um emprego adequado. Para ele, a reparação financeira do Estado pode amenizar os efeitos perversos daquele período negro.
- Muitos ficaram impossibilitados de trabalhar, ou porque perderam a saúde ou porque não conseguiram emprego. Cada caso é um caso. Eu não me animei a pedir, mas já dei três testemunhos para colegas que entraram com processo. Como uma amiga, que nunca mais se aprumou na vida, foi brutalmente torturada e nunca mais dormiu direito nem conseguiu um emprego decente. Para esses casos, a reparação financeira é importante - disse o deputado.