Título: Não faz sentido cobrar ressarcimento do Estado
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 13/04/2008, O País, p. 17
INDENIZAÇÕES MILIONÁRIAS: "Minha participação na luta política foi consciente. Não fui enganado. Sabia dos riscos"
Ex-militante preso, torturado e afastado do emprego, o hoje deputado Pedro Eugênio dispensa reparação financeira
BRASÍLIA. No início dos anos 1970, ele militava, clandestinamente, no movimento estudantil de Pernambuco e também pertencia ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Como muitos dos brasileiros que lutavam contra a ditadura, o hoje deputado Pedro Eugênio (PT-PE) ficou preso por nove meses (quando tinha 23 anos), foi torturado, deixou o emprego por receio de nova prisão, viveu escondido com a mulher por um período e teve a contratação como professor auxiliar da universidade federal do estado cancelada. Nunca se dispôs, no entanto, a pedir reparação financeira ao Estado com base na Lei da Anistia.
"Cabe a cada um julgar se foi ou não prejudicado"
Pedro Eugênio faz questão de registrar que não julga aqueles que decidiram entrar com processos contra os abusos sofridos na época da ditadura - como os 20 jornalistas beneficiados no último dia 4, entre os quais os cartunistas Ziraldo e Jaguar, que conquistaram direito a indenização de mais de R$1 milhão, além pensão mensal permanente e contínua de R$4.375,88 cada um. Mas o deputado diz que, apesar do que sofreu, como não ficou inválido e conseguiu tocar a vida, nunca se sentiu confortável em pedir reparação financeira ao Estado.
- Sempre entendi que minha participação na luta política contra a ditadura foi consciente. Não fui enganado. Embora jovem, sabia dos riscos. Agora vou pedir ao Estado brasileiro ressarcimento, com todas as obrigações que ele tem hoje de dar provimento a pessoas carentes? Politicamente, quem entrou na luta estava disposto a criar um novo regime socialista e sabia que podia ser derrotado. Não faz sentido cobrar ressarcimento - disse Pedro Eugênio. - Mas cabe a cada um julgar se foi ou não prejudicado.