Título: Xenofobia pré- eleitoral
Autor: Assunção, Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 17/04/2008, O Mundo, p. 30

Presidente acusa estrangeiros de tumultuar pleito no domingo. Nove colombianos são presos

Ricardo Galhardo ASSUNÇÃO

As declarações do presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, sobre a suposta presença no país de agitadores venezuelanos, bolivianos e equatorianos dispostos a tumultuar as eleições presidenciais de domingo acentuaram o sentimento nacionalista que marca a campanha eleitoral. Ontem, nove jovens colombianos foram presos por "precaução", segundo a polícia. Oficialmente, eles são acusados apenas de não pagarem a conta do hotel. A candidata governista, Blanca Ovelar, do Partido Colorado, disse ao GLOBO que o serviço de inteligência do governo foi informado sobre o aumento do fluxo de estrangeiros entrando no país nos últimos dias.

- Há rumores de que muita gente entrou no Paraguai vinda de vários países. A imigração já repassou estas informações ao serviço de inteligência. Seriam pessoas que se passam por observadores mas não são observadores. Por isso o governo precisa de alguma forma de precaução - disse a candidata.

Já Nicanor Duarte disse ter recebido informações do procurador-geral do Estado (equivalente ao procurador-geral da República) da presença de cidadãos da Venezuela e do Equador (países governados por presidentes de esquerda) em hotéis de Assunção credenciados como observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA), mas que seriam, na verdade, especialistas em explosivos. Eles seriam ligados ao candidato oposicionista Fernando Lugo, primeiro colocado nas pesquisas. Segundo o presidente, rádios comunitárias de São Pedro, cidade natal de Lugo, estariam escondendo cargas de explosivos. A oposição ridicularizou a denúncia:

- Isso nos soa como uma expressão de esquizofrenia. Mas se estivesse na pele deles, que passaram 62 anos no poder e agora não vivem mais seus melhores dias, eu entenderia a situação. O que me estranha é que não tenham detido os supostos delinqüentes e os processado. Isso qualifica a terrível ineficiência que é característica deste governo - disse ontem o coordenador-geral da campanha de Lugo, Miguel Lopes Perito.

Imprensa critica postura de Nicanor

O clima nacionalista que marca a disputa paraguaia não poupou brasileiros e argentinos. O "ABC Color", um dos maiores jornais de Assunção, publicou editorial ontem no qual acusa os dois países de serem os principais responsáveis pela corrupção no Paraguai. Segundo o jornal, o azar histórico do Paraguai é estar geograficamente localizado entre portenhos e lusitanos. Assuntos como o baixo preço pago pelo Brasil pela energia excedente da hidrelétrica de Itaipu e a desapropriação de terras ocupadas pelos brasiguaios (brasileiros que moram no Paraguai) viraram temas de campanha.

Parte da imprensa de Assunção e a oposição qualificaram a denúncia do presidente como uma tentativa de espalhar o medo às vésperas das eleições com o objetivo de reduzir a participação dos eleitores no pleito e diminuir a suposta vantagem de Lugo. Outra leitura é que o governo está se precavendo para denúncias de fraudes eleitorais por parte dos observadores internacionais.

No comício de Caaguazzú, o presidente chegou a dizer que as Forças Armadas participariam de ações específicas para apoiar a Polícia Federal nas investigações sobre agitadores. A frase foi suficiente para espalhar o medo de uma militarização do país. Os rumores fizeram com que o comando militar se pronunciasse garantindo que 100% das tropas estarão aquarteladas no dia do pleito.

Segundo o ministro do interior, 39 equatorianos, 38 colombianos e 200 bolivianos entraram no Paraguai nos últimos dias. O ministério não informou o número de venezuelanos nem o fluxo normal de cidadãos destes países no Paraguai.

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Há rumores de que muita gente entrou no Paraguai vinda de vários países. A imigração já repassou estas informações

Blanca Ovelar, candidata governista à Presidência