Título: Corte de Isabella foi limpo com fralda e toalha
Autor: Farah, Tatiana; Christiano, Cristina
Fonte: O Globo, 18/04/2008, O País, p. 8

Pai e madrasta da menina serão ouvidos pela polícia novamente hoje, dia em que a garota completaria 6 anos.

SÃO PAULO. Hoje, quando Isabella Oliveira Nardoni completaria 6 anos, a polícia paulista espera apresentar novas provas contra o pai e a madrasta da menina, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, que prestarão novos depoimentos. Ontem, os peritos revelaram mais uma prova que constará do inquérito que deve concluir pelo indiciamento do casal: a criança teve o sangue do rosto limpo por uma fralda e uma toalha antes de ser jogada do 6º andar. Alexandre e Anna Jatobá são, até agora, os únicos suspeitos do crime, ocorrido há 20 dias, quando Isabella passava o fim de semana com o pai, a madrasta e os dois irmãos menores.

A fralda e a toalha de rosto foram encontradas pelos peritos no apartamento da família Nardoni, na Zona Norte paulistana. Estavam sujas de sangue de Isabella. Os peritos acreditam que o rosto foi limpo porque, embora a criança apresentasse um corte na testa quando caiu no jardim do prédio, o corte estava seco, sem sangue. Tanto o laudo dos legistas do Instituto Médico-Legal (IML) sobre a morte quanto o da cena do crime, feito pelo IC (Instituto de Criminalística), serão divulgados oficialmente hoje, mas já foram entregues aos delegados do 9º DP, do Carandiru, que investigam o assassinato.

Os peritos haviam estranhado o fato de Isabella não ter manchas de sangue no rosto, apesar do corte profundo na testa, que sangrara muito. Os policiais buscaram no apartamento alguma toalha ou tecido que pudesse ter sido usado para limpar a menina e foram encontradas a fralda e a toalha, que, embora já lavadas, continham vestígios do sangue de Isabella.

O laudo do IML entregue ontem à polícia constatou que Isabella estava viva quando foi arremessada da janela do 6º andar do Edifício London. Ela foi espancada e asfixiada antes de ser jogada.

Segundo os legistas, apesar de o rosto da criança ter sido limpo, é possível comprovar que o ferimento era recente, porque as células responsáveis por combater a entrada de bactérias estavam aglomeradas em torno da ferida. Isso significa que, por ela estar respirando, havia circulação sangüínea.

Segundo o IML, Isabella morreu em conseqüência de politraumatismo (fraturas múltiplas) sofrido durante a queda. Ela não teve parada cardiorrespiratória no percurso até o chão. Isso é confirmado pelo fato de a criança ter sido socorrida por uma unidade de resgate. Em caso de morte, o procedimento é proibido para que o local de crime seja preservado para perícia.

Segundo os legistas, Isabella levou dois segundos para chegar ao chão, em uma velocidade de 72 km/h. O impacto, contudo, foi amortizado por uma palmeira de 60 centímetros, a grama de dez centímetros e a terra fofa.

Os policiais também requisitaram ao Hospital Nipo-Brasileiro, da Zona Norte, o prontuário médico de Isabella desde janeiro de 2007, para descobrir se a menina deu entrada com lesões corporais. A medida foi adotada depois que várias pessoas ligaram para o 9º Distrito (Carandiru), denunciando maus-tratos contra a criança.

Com o depoimento do casal marcado para as 10h30m de hoje e a apresentação dos laudos periciais, o delegado Calixto Calil Filho espera indiciar o casal Nardoni. O pedido de prisão preventiva do casal, no entanto, só deve ser feito na semana que vem, quando o delegado concluir o inquérito e o enviar à Justiça. A data dos depoimentos foi escolhida propositadamente para coincidir com o aniversário da menina. Com o grande movimento de imprensa e com a comoção causada pela tragédia, a polícia montou um aparato na delegacia.

Na Rua Camarés, onde fica o 9º DP, o trânsito de veículos foi fechado ontem. Os policiais passaram tinta spray no asfalto para delimitar o espaço da imprensa, que será confinada do outro lado da rua. A polícia colocava, durante a noite, proteção com grade para evitar o acesso da imprensa e do público ao casal. Seria instalada uma tenda para servir água aos repórteres. Haverá cem cadeiras na rua para os jornalistas. Foram instalados quatro banheiros químicos.

¿ Precisamos garantir a integridade física de todos. Deles e de vocês¿ disse um funcionário da delegacia.

A preocupação com a integridade física do casal Nardoni procede. Ontem, viaturas de polícia tiveram de circular durante todo o tempo diante da casa dos pais de Alexandre, na zona Norte de São Paulo. Manifestantes picharam o local e até a jogaram pedras no portão da casa, chamando o rapaz e Anna Carolina de assassinos e clamando por Justiça. Cartazes foram fixados no portão da casa.

Procurando ficar distante da confusão que cerca a investigação sobre a morte da filha e recusando-se a dar entrevistas, a mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira, foi até o Templo Bizantino, do Padre Marcelo Rossi, no início da noite de ontem. Ela rezou e lembrou o aniversário da filha.

* Do Diário de S. Paulo