Título: UFRJ já prevê crescimento abaixo de 5% este ano e analistas temem por 2009
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 18/04/2008, Economia, p. 26

A VOLTA DO APERTO: Cenário poderá piorar com pressão global dos preços.

Segundo economista, alta de juros terá efeitos no investimento e no consumo.

A economia brasileira deve crescer menos de 5% este ano, nas previsões do Grupo de Conjuntura da UFRJ. A universidade estava prevendo expansão de 5,2% até o Comitê de Política Monetária (Copom) ter elevado a taxa básica de juros, a Selic, de 11,25% para 11,75% na quarta-feira.

Segundo Antonio Licha, coordenador do grupo, não há dúvida de que o aperto monetário terá efeitos no crescimento global da economia, no investimento, no consumo e na produção:

- O crédito está mais caro. Os projetos de investimento em curso não serão afetados. Porém, os empresários devem estar reprogramando seus projetos futuros.

Para Licha, a economia cresce a uma taxa de 6% ao ano e deve ter o ritmo reduzido para 4% no segundo semestre. Isso comporá uma expansão inferior a 5%, nas contas do economista.

Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora, vê outro cenário: o avanço da economia sofrerá pouco impacto este ano, quase residual, mantendo uma expansão de 4,7%. Mas, em 2009, os reflexos serão maiores.

- Essa decisão deve jogar para baixo o crescimento, que deve ser menor que 4,5%. Além disso, temos as incertezas do cenário externo, o que atrapalha mais ainda. Se o mundo todo desacelerar, o Brasil vai junto - diz Teles, que acredita que os juros devem subir para 12,75% ou 13,25% ao ano.

Isso se a situação da inflação não piorar. Ele cita altas em alimentos, petróleo e metais:

- É uma inflação global. Pode ser que o mundo tenha que passar por um crescimento menor para dar um contrapeso nas pressões inflacionárias.

Fernando Sampaio, economista da LCA Consultores, diz que as contas das projeções serão refeitas, mas não garante que a previsão de alta de 5% do PIB será revista.

- Tudo vai depender das expectativas que se firmarem para as próximas decisões do Copom. O que podemos afirmar é que o ajuste será breve e mais moderado.

O economista da LCA sustenta essa tese diante do impacto da alta de juros neste momento da economia. Com o crescimento forte do crédito, que passou de 25% do PIB em 2004 para 35% atualmente, um aperto monetário tem mais efeito que em 2004, quando houve a última alta forte de juros.

- Hoje, o freio dos juros é bem mais eficaz. A alta, então, não será tão pronunciada. Vemos, também, que o cenário inflacionário não é tão preocupante, já que o setor de serviços, mais sensível ao aquecimento da demanda, está com os preços estáveis.

Meta de inflação deveria ser revista, diz especialista

Licha, da UFRJ, não condena a ação do Banco Central ao subir os juros. Para ele, a gestão está correta, o erro está na meta de inflação. Para 2008, o alvo é de 4,5%.

Ele lembra os anos de 2002, 2003 e 2005, quando as metas de inflação no país foram ajustadas para embutir os choques de oferta.

- O BC já fez isso. E vários países da América Latina estão fazendo isso também. No Chile, a meta é de 3%, e a inflação está em 8%. Na Colômbia, o alvo é de 4%, e os preços subiram 7%.