Título: Emprego com carteira bate recorde
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 18/04/2008, Economia, p. 27

Ministro do Trabalho critica elevação da Selic pelo BC: "Erro de avaliação".

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O mercado formal de trabalho brasileiro registrou em março um saldo positivo de 206.556 postos - diferença entre admitidos e demitidos, quebrando o recorde do mesmo período de 2007, quando foram criados 146.141 empregos com carteira assinada. Com isso, o número de empregos gerados no primeiro trimestre deste ano atingiu 554.440, também o melhor resultado da série do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, iniciada em 1992. Com exceção da indústria de transformação, todos os setores bateram recorde para o mês de março.

Ao divulgar os dados do Caged, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, criticou a decisão do Banco Central, que elevou os juros em 0,5 ponto percentual para 11,75% ao ano na quarta-feira, argumentando que a indústria ainda não encostou no teto da sua capacidade - pelo menos em termos de criação de vagas.

Lupi disse que o aumento médio das contratações no setor, no qual há risco inflacionário segundo a autoridade monetária, ficou em 0,57%, contra a média nacional de 0,70%. O segmento respondeu por 40.389 postos mês passado, pouco abaixo do saldo obtido em março de 2007.

- Foi um erro de avaliação. Foi precipitado - afirmou.

Economia "subterrânea" cresce mais que a formal

Apesar disso, Lupi afirmou que a alta dos juros somente afetará o mercado de trabalho a partir de setembro e não prejudicará a meta de criar 1,8 milhão de empregos em 2008. Caso haja mais aumentos, avaliou, o desempenho não se repetirá no próximo ano:

- Vai ser mais difícil repetir a boa performance do emprego em 2009.

Com 89.072 postos, o setor de serviços continuou puxando as contratações. Em seguida, aparecem a indústria de transformação, a construção civil, com 33.437 vagas, o comércio, com 19.594 e a agricultura, com saldo de 15.442.

Segundo o Caged, o melhor desempenho foi no estado de São Paulo, com saldo de 90.582 trabalhadores com carteira assinada. Em segundo lugar, ficou Minas (33.021), seguido por Paraná (25.085) e Rio, com 18.883. Houve elevação do nível do emprego formal em todas as regiões, exceto no Nordeste, que eliminou 14.633 postos, devido à entressafra no complexo sucroalcooleiro.

A chamada economia subterrânea, soma da produção de bens e serviços que escapam ao controle oficial, também avançou. E mais que do que a economia formal. De acordo com o Índice da Economia Subterrânea, apurado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), sob encomenda do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco), ela cresceu 8,7% em 2007, acima dos 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) no período.

Contribuíram para o resultado a forte regulação do mercado formal e a carga tributária elevada. No índice, a FGV considera tanto o mercado informal como as atividades não declaradas ao governo com o objetivo de evasão de impostos. Contrabando e tráfico de drogas não são considerados.