Título: Commodities ameaçam superávit em 2009
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 13/04/2008, Economia, p. 36

Queda de preço teria impacto sobre exportações brasileiras. Saldo da balança já é 61% menor

BRASÍLIA. Empresários e integrantes do governo já não descartam que a balança comercial brasileira apresente déficit em 2009. Esta possibilidade, que não era cogitada desde 2001, passou a ser considerada depois que o saldo comercial semanal minguou este ano e fechou negativo em três ocasiões. Também entrou na conta uma eventual queda generalizada das cotações das commodities agrícolas, minerais e metálicas, que correspondem a 65% da pauta de bens brasileiros vendidos para o exterior e estão ameaçadas pelo possível freio à economia global, decorrente da retração americana.

No ano, o superávit acumulado é de US$3,679 bilhões, 61% menor que o de igual período de 2007 (pela média diária). As exportações somam US$41,324 bilhões, alta de 14,9%, e as importações alcançaram US$37,654 bilhões, avanço de 41,8%. Por isso, é consenso entre governo e setor produtivo a urgência de se fazer o dever de casa. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a nova política industrial são respostas a esses desafios.

Déficit é maior em setores intensivos em tecnologia

O país carece de infra-estrutura; tem carga tributária elevada em relação a outros parceiros; não conta com mão-de-obra qualificada em setores como o de informática e eletroeletrônicos; a contribuição de micro e pequenas empresas é de apenas 1,7% do total exportado da pauta; e, para piorar, a competitividade das vendas externas é afetada pelo real valorizado. Não menos importante é que o câmbio valorizado se tornou um fator fundamental para ajudar a inibir pressões inflacionárias, que já ocorrem e preocupam a área econômica.

Para o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Primo Roberto Segatto, a nova política industrial deve focar no reaparelhamento da indústria. O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, concorda e destaca a vulnerabilidade dos bens industrializados frente ao câmbio valorizado.

- O sistema tributário prejudica, principalmente, as exportações de manufaturados, e o Brasil não é um país que desenvolve produtos de ponta - afirma Castro.

Em outra vertente, setores de bens de maior valor agregado e alta tecnologia estão muito atrás dos grandes players mundiais. Na área de insumos e equipamentos hospitalares, o país teve déficit de US$5,5 bilhões em 2007. Em software, as exportações se limitaram a US$250 milhões, enquanto as vendas mundiais somaram US$36 bilhões. No complexo eletrônico, do saldo negativo de US$8,7 bilhões, US$6,5 bilhões foram de componentes.

Há metas para essas áreas na nova política industrial. As medidas passam por linhas de financiamento mais baratas, incentivos fiscais para fabricantes estrangeiros e qualificação de mão-de-obra. Em saúde, a meta é reduzir o déficit para US$4 bilhões em 2013.

Brasil deveria produzir tecnologia, diz secretário

O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, diz que o desenvolvimento de novas tecnologias ocorre em nações desenvolvidas. Mas a produção se dá em países com mão-de-obra barata e qualificada, como a Índia. O Brasil deveria aproveitar essa oportunidade.