Título: Há um sofisma e uma desinformação no discurso do candidato
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 13/04/2008, O Mundo, p. 41
"Há um sofisma e uma desinformação no discurso do candidato"
FOZ DO IGUAÇU. O presidente da Hidrelétrica de Itaipu, Jorge Samek, diz que há desinformação nas palavras do candidato Fernando Lugo, que reforçou como bandeira a necessidade de o Paraguai cobrar mais caro pela energia produzida na sua margem, para melhorar a economia.
Itaipu está no centro do debate da campanha desde que Fernando Lugo disse que o Brasil deveria pagar mais pela energia produzida por lá. Há essa possibilidade?
JORGE SAMEK: Esse discurso é recorrente desde 1973. O tratado não foi idéia de dois presidentes, passou pelos Congressos dos países. No lado paraguaio, diziam que o empreendimento só ia beneficiar o Brasil, que ia levar toda a energia. No Congresso brasileiro, diziam que era um absurdo, porque tínhamos tanto potencial hidráulico e não haveria motivos para fazer uma parceria com o Paraguai. Na verdade, foi um tratado justo, que não agradou nem aos paraguaios nem aos brasileiros.
Se o Paraguai reforçar a campanha contra o preço pago pelo Brasil, o consumidor poderá ter que pagar mais caro pela energia?
SAMEK: Não tem como. O preço que pagamos é o preço da média nacional. Há um sofisma e uma desinformação no discurso do candidato. Quando ele diz que o Brasil estava pagando US$2,8 por megawatt/hora, isso é querer confundir. Dez turbinas estão do lado brasileiro e dez na margem paraguaia. Dessas dez, o Brasil consome as dez. O Paraguai consome toda sua necessidade, que, em média, é uma turbina e meia das suas dez. O que não consomem, vendem para o Brasil. E vendem porque o tratado foi aprovado com uma lei que garantia a compra de toda a energia. E por que tinha essa lei? Para viabilizar o empréstimo, para poder procurar dinheiro no clube de Paris, no BNDES, na Eletrobrás.
Lugo fez gestões junto ao Brasil para tentar uma revisão das tarifas. Há um movimento de negociação?
SAMEK: O Brasil está sempre aberto para questões que possam facilitar a vida de Brasil, Paraguai, Argentina, Bolívia. Agora, tudo tem preço. Quem paga a conta disso aqui é o consumidor, paraguaio e brasileiro. E isso tem que ser respeitado. (F.F)