Título: Diabetes fora de controle
Autor: Marinho, Antônio
Fonte: O Globo, 13/04/2008, Ciência, p. 44

Obesidade multiplica casos no Brasil, onde a maioria dos doentes não recebe tratamento

Aúltima pesquisa "O mapa da saúde do brasileiro", do Ministério da Saúde, mostrou que os brasileiros estão comendo mais. Mas isso não significa que tenham uma alimentação saudável. Tanto que 43% estão acima do peso e 13% são obesos. Resultado: o aumento do número de casos de diabetes do tipo 2, associado à obesidade. Até 2025 serão 380 milhões de diabéticos no mundo. E a situação vai piorar no Brasil, onde 7% da população sofre da doença. Para cada brasileiro diagnosticado, há outro que ignora ser diabético. Da metade que sabe ter o mal, só metade vai ao médico.

A doença segue num ritmo acelerado. Surge um caso novo a cada cinco segundos no mundo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), só no Brasil são mais de 500 casos novos por dia. Estudo nacional mostrou que 75% dos diabéticos tipo 2 estão acima do peso. E apesar do desenvolvimento de novas drogas e tratamentos cirúrgicos, médicos afirmam que é mais fácil e barato adotar hábitos saudáveis: adotar uma dieta balanceada e praticar atividade física.

Isso porque no diabetes é imprescindível o controle da glicemia, da pressão arterial e do colesterol para não sofrer complicações graves no coração, nos rins e nos olhos. No Brasil a situação é crítica porque a maioria dos pacientes não recebe tratamento. Aqui ainda é alto o número de amputações por causa do diabetes.

Pacientes sem qualquer atenção

Os dados comprovam que a diabetes é negligenciada entre brasileiros. Numa pesquisa em oito cidades com 2.233 pacientes ambulatoriais (60% mulheres), com idade de 59 anos e doentes há nove anos, 70% não estavam com a pressão controlada; 50% não fizeram exame oftalmológico e 60% nunca passaram por exames dos rins ou dos pés, regiões muito afetadas pela doença. Cerca de 80% tinham colesterol ruim ( LDL) acima dos limites e 50% viviam sem controle da glicemia.

- O fornecimento de medicamento, principalmente insumos como seringas e aparelhos de monitorização da glicemia com as fitas, é irregular no Brasil. Esperamos que as ações do Ministério da Saúde sejam acompanhadas pelas secretarias estaduais e municipais - diz a endocrinologista Marília de Brito Gomes, presidente da SBD.

Com o atendimento precário, o prognóstico é ruim. O diabetes tem influência de vários fatores. É uma doença complexa, com interação de diferentes sistemas do corpo.

- O tratamento fica mais difícil porque não há medicamento para atuar em todos estes sistemas ou que interligue os diferentes hormônios responsáveis pelo nosso metabolismo - diz Marília.

O pacote prevenção, diagnóstico precoce e doença controlada é a melhor saída. O diabetes tipo 2 é progressivo e traiçoeiro. No início, pode ser tratado apenas com medicação (metformina), por tempo variável (em média dois a três anos). Depois, o indivíduo terá que tomar outra droga por mais dois anos. Mais tarde usará, provavelmente, insulina, segundo o endocrinologista Freddy Goldberg Eliaschewitz, médico dos hospitais Heliópolis e Albert Einstein, em São Paulo.

- Um dos principais problemas é o sobrepeso. Quando há aumento de gordura, há maior resistência à insulina, isto é, o organismo não responde a este hormônio de forma eficiente. A relação entre quantidade de gordura e insulina é exponencial. Para cada 5% de peso, o pâncreas precisa fabricar o dobro de insulina - explica Eliaschewitz.

Ele também critica a falta de controle da doença no Brasil e afirma que sai mais barato prevenir, dar o remédio e acompanhar os diabéticos. Em 2006 o setor público de saúde gastou R$47,6 milhões com internações de diabéticos.

- O não fornecimento de medicamentos e insumos é uma economia burra. Sai muito mais caro tratar o paciente infartado, com danos à visão e problemas renais. Um paciente transplantado gasta R$100 mil reais por ano só com imunossupressores. Enquanto a metformina custa R$1 - diz Eliaschewitz. - Se não forem realizadas ações contra a doença, não haverá médicos suficientes para cuidar de todos os pacientes.

E os médicos dizem que apenas 30 minutos de exercícios diários já reduzem a intolerância à glicose.

- O bom prognóstico não depende de medicamentos. É preciso cuidar da alimentação e praticar exercícios - reforça o endocrinologista Leão Zagury, ex-presidente da SBD e autor de livros sobre diabetes. - Entre entre os avanços no tratamento ele destaca drogas que atuam nas incretinas, hormônios fabricados pelo tubo digestivo e que potencializam a secreção da insulina. As incretinas ajudam a reduzir a glicose.

- A tendência é o desenvolvimentos de drogas específicas, como medicamentos que atuem em várias frentes, especialmente no tipo 2. Para exemplificar, será como fazer um terno no alfaiate em vez de comprar um pronto - diz Zagury.

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