Título: Polícia confrontará versões em reconstituição
Autor: Christiano, Cristina
Fonte: O Globo, 21/04/2008, País, p. 21

Em entrevista ao `Fantástico¿, pai e madrasta de Isabella voltam a alegar inocência e ele afirma: `Jamais encostei um dedo nela¿

Cristina Christiano *

SÃO PAULO. Depois de indiciar o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá pela morte de Isabella, de 5 anos, a polícia vai realizar esta semana a reconstituição do crime, na qual espera confrontar as versões apresentadas pelo pai e pela madrasta da menina.

Em entrevista ao ¿Fantástico¿, da TV Globo, ontem, o casal voltou a alegar inocência. Sobre o ferimento e os vestígios de sangue de Isabella no carro e no apartamento, Alexandre afirmou que ¿jamais encostou um dedo¿ na filha. Eles repetiram que um invasor matou Isabella.

¿ Somos totalmente inocentes ¿ afirmou Anna.

A reconstituição, ou reprodução simulada dos fatos, é realizada com base no confronto das informações e peças que constam do inquérito policial. Com base no artigo 7 do Código de Processo Penal, a autoridade policial pode pedir a reconstituição para verificar a veracidade e a procedência dos fatos, bem como definir a participação de cada um dos suspeitos, que são obrigados a comparecer. Mas, por lei, os indiciados só colaboram se quiserem.

Como já fez nos depoimentos do casal na sexta-feira, a polícia vai voltar a perguntar, por exemplo, sobre os ferimentos na testa de Isabella e as marcas em seu pescoço que indicam que a garota foi asfixiada antes de ser jogada da janela do apartamento, no 6º andar do Edifício London, na Zona Norte. Entre a chegada da família ao prédio e o chamado de socorro de um vizinho, passaram-se 12 minutos.

Alexandre e Anna Carolina foram indiciados por homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, meio cruel e emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Segundo eles, Isabella havia sido colocada na cama pelo pai, dormindo. Alexandre afirma que a deixou lá com a luz do abajur acesa e desceu à garagem para ajudar a mulher a subir com os dois filhos, Pietro, de 3 anos, e Kauã, de 1. Perícia e polícia, porém, afirmam que não havia mais ninguém no apartamento.

Pai de Alexandre vê irregularidades

Ontem, o advogado tributarista Antônio Nardoni, pai de Alexandre, voltou a criticar o trabalho da polícia no caso. Ele falou que acredita que seja mais fácil para a polícia e para a sociedade condenar a madrasta e o pai de Isabella.

¿ Acho que é mais fácil você acusar a madrasta, porque já tem uma pecha de madrasta, e o pai, porque foram os últimos que viram a menina. E aí o povo esquece que era uma família feliz. Vocês viram pela gravação no Sam¿s Club (onde a família fez compras antes de voltar ao apartamento) como era a família ¿ disse o avô de Isabella.

Para ele, há várias irregularidades no inquérito policial que prejudicariam o casal.

¿ Um julgamento foi feito logo em seguida ao acidente. Já começou a haver um prejulgamento por parte da própria polícia, no sentido de que seriam só os dois. A partir daí, o direcionamento foi para eles e não se verificou mais nada.

Perguntado sobre quem teria cometido o crime, o advogado afirmou que não saberia dizer, mas que qualquer pessoa poderia ter entrado no prédio.

A escritora Ilana Casoy, que acompanhou a reconstituição da morte de Manfred e Marísia von Richthofen quando escrevia o livro ¿Quinto mandamento¿, que conta o crime e as investigações para chegar aos assassinos, lembra que, no caso dos Richthofen, foi crucial para provar o envolvimento da filha do casal, Suzane, o sinal de positivo que ela disse ter feito para os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos subirem ao quarto do casal e praticar o crime.